A Rússia não entrou em "economia de guerra" apesar da invasão

A Rússia não entrou numa "economia de guerra" e aumentou as despesas militares apenas residualmente, apesar de ter mobilizado a indústria militar para a invasão da Ucrânia, segundo o Instituto de Estocolmo para a Pesquisa da Paz (SIPRI).

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© REUTERS/Evgenia Novozhenina/File Photo

Lusa
27/06/2023 16:55 ‧ 27/06/2023 por Lusa

Mundo

Ucrânia/Rússia

As despesas militares russas aumentaram de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 para 4,4% em 2022 e as estimativas para este ano é a de que não haja um incremento relativamente ao ano passado, de acordo com os números oficiais do Kremlin, citados num estudo do 'think tank'.

"O Governo russo parece estar preocupado em minimizar o impacto da guerra na Ucrânia nos padrões de vida da população", conclui o SIPRI num novo estudo, que diz que a invasão está a ser gerida com os recursos de uma operação militar de âmbito limitado.

O estudo deste 'think tank' com sede na Suécia considera que as despesas com o esforço de guerra na Ucrânia podem ser pagas facilmente pelos cofres do Estado russo, apesar das sanções ocidentais de que Moscovo tem sido alvo.

Ainda assim, os investigadores consideram que o impacto da guerra na população russa "será sentido durante muitos anos, nas áreas económica, social e política".

A designação oficial dada à invasão russa da Ucrânia -- "operação militar especial" -- parece ser mais do que uma manobra semântica perante o conflito e reflete a forma como o Kremlin concebeu inicialmente a iniciativa.

"Foi preparada como uma operação envolvendo não apenas as Forças Armadas, mas também os serviços de segurança", defende este estudo, que analisou documentos em que a invasão da Ucrânia teve um duplo planeamento do Ministério da Defesa e dos serviços de informações (FSB).

Este estudo refere que, poucos dias depois do início da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, o Kremlin percebeu que a resistência ucraniana "fez evaporar a esperança de uma vitória rápida", mas o Presidente Vladimir Putin não se mostrou favorável a rever o orçamento militar para os meses e anos seguintes.

O orçamento para o período 2022-24 assinado por Putin em 06 de dezembro de 2021 definia os gastos em defesa equivalente a 3,6 do PIB.

"O orçamento não sugeria a previsão de um conflito militar", conclui o estudo, que revela que, com o avançar do conflito militar os gastos com a invasão fizeram subir a despesa militar para apenas 4,4% do PIB.

Os aumentos de gastos revelaram-se sobretudo no segundo semestre de 2022, em particular depois de ter sido declarada uma mobilização parcial da população, com o acrescento de 300.000 elementos para as Forças Armadas.

"Estas medidas obrigaram a um aumento da despesa militar, que foi escondida do público, através de limites no acesso aos dados", explica o estudo do SIPRI.

Quando uma estimativa orçamental foi mais tarde revelada, as autoridades russas informaram que a diferença entre o que estava inicialmente previsto na despesa militar e os gastos reais era diminuto, apesar do esforço de guerra na Ucrânia estar a prolongar-se.

Por essa altura, os números oficiais indicavam que havia uma previsão de que a primeira fase militar da "operação militar especial" estaria terminada em 2023, com uma transição para uma fase em que os gastos se limitariam a fazer a ocupação dos territórios ocupados.

A revisão orçamental apresentada pelo Kremlin deixa a entender que a despesa com gastos militares vai estabilizar em 2023 ou até ser reduzida ligeiramente.

"Com a poupança feita, o Kremlin prevê um aumento de gastos em políticas sociais em 2023 e 2024", revela o estudo do instituto, que ressalva que os gastos militares não são a mesma coisa que os custos da guerra, já que há despesas adicionais com que o Estado russo se terá de deparar por causa do impacto desta invasão da Ucrânia.

A agência noticiosa estatal RBK noticiou recentemente que os gastos totais nas regiões ocupadas não seriam revelados, por ser considerada informação confidencial, e vários analistas consultados pelo SIPRI consideram que o orçamento para as regiões ocupadas na Ucrânia seja composto gradualmente e retiradas do orçamento aprovado em Moscovo.

O estudo explica ainda que, numa recente conferência económica em Moscovo, Putin reconheceu que a economia russa tinha tido um desempenho melhor do que estava inicialmente previsto e mostrou otimismo sobre os fundos de que o Estado disporia para os próximos anos.

Contudo, não foram apresentadas previsões de gastos militares para 2024, para além daqueles que foram definidos no plano orçamental feito em 2021, para o período 2022-2024, de acordo com o SIPRI.

Leia Também: Propostas da Comissão Europeia para alterar orçamento "não são sérias"

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