Acordo de cereais? "Não sei como se pode melhorar algo que não existe"
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, declarou hoje morto o acordo para a exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, afirmando que esta iniciativa não pode ser melhorada porque "não existe".
© ALEXANDER NEMENOV/AFP via Getty Images
Mundo Guerra na Ucrânia
A atual prorrogação do acordo, assinado no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia sob a mediação da ONU e da Turquia, termina no próximo dia 17 de julho. A par dos cereais ucranianos, o documento também abrangia a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.
"Não sei como se pode melhorar algo que não existe", afirmou o chefe da diplomacia russa, ao comentar o futuro do acordo durante a conferência de imprensa no final da sexta ronda de diálogo estratégico entre a Rússia e o Conselho de Cooperação para Estados Árabes do Golfo.
Lavrov disse que "na parte russa (...), nenhum dos pontos [do acordo] nunca foi cumprido".
"Há muito tempo, muitos meses, ouvimos dos representantes do secretariado da ONU, do secretário-geral [António Guterres], daqueles que foram encarregados de lidar com o assunto, que fazem esforços desmedidos (...) que não levaram a nenhum resultado", afirmou o político russo perante os representantes da entidade árabe.
No entanto, Lavrov observou que, apesar do fracasso desta iniciativa, a Rússia está pronta para "satisfazer todas as necessidades, inclusive adicionais" dos parceiros árabes.
"Não há nenhum obstáculo para isso. E nenhuma condição é exigida que dependa de quem não pode cumprir os seus compromissos", acrescentou, numa alusão aos representantes das Nações Unidas.
O porta-voz do Kremlin (Presidência russa) salientou hoje que para já "nada mudou em relação ao acordo, pelo que não se pode dizer nada de novo", frisando que "a situação de facto é bem conhecida".
Embora não tenha sido contundente a esse respeito, a Rússia tem repetidamente sinalizado que não pretende alargar a chamada Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, alegando que, por um lado, se tornou um pacto comercial e não humanitário e, por outro lado, o memorando russo continua por cumprir.
Moscovo tem contestado os entraves sobre as suas exportações de fertilizantes e de produtos alimentares, alegando que o seu setor agrícola está a ser prejudicado pelas sanções impostas pelo Ocidente na sequência da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
As exigências da Rússia incluem a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueio da logística de transportes e dos seguros, o descongelamento de ativos e a reabertura do oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa, que explodiu a 5 de junho.
Perante as resistências do Kremlin em renovar o acordo, o que tem acontecido em cada momento de renegociação, várias notícias dão conta de que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pode abdicar da assinatura de Moscovo e assumir ele próprio, através das suas forças navais, a escolta dos navios mercantes carregados com cereais no Mar Negro.
Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, mais de 30 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.
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