O julgamento estava suspenso desde 29 de maio, com os advogados de defesa a recusarem participar por não terem sido pagos.
Inicialmente previsto para ser retomado em 21 de junho, na sequência de um acordo entre as duas partes, o julgamento teve de ser novamente adiado após uma greve dos guardas prisionais.
Apesar do reinício do processo, os advogados mantiveram a pressão sobre o ministro da Justiça, pedindo-lhe que "resolva o problema" dos seus honorários, que continua por solucionar.
"Em todo o caso, demos-lhe (ao Ministério da Justiça) o mês de julho para resolver o problema", disse à AFP Antoine Pépé Lamah, um dos advogados de defesa, que se manifestou confiante de que os honorários serão pagos em breve.
"Vamos cumprir a nossa parte do compromisso, comparecendo na audiência de hoje e nos dias seguintes. Se, no final deste mês, as promessas feitas não tiverem sido cumpridas quando o tribunal retomar (após as férias judiciais), continuaremos o boicote", continuou.
Na sessão de hoje, o tribunal ouviu um arguido, o capitão Marcel Guilavogui, antigo membro da guarda presidencial e sobrinho de Moussa Dadis Camara.
O capitão Guilavogui disse ao tribunal que Moussa Dadis Camara foi o "mentor, organizador e executor" do massacre.
"Decidi dizer a verdade. Pensava que o Presidente (Moussa) Dadis (Camara) ia ter a coragem de assumir a responsabilidade pelo que tinha planeado", disse hoje o capitão Guilavogui, que em novembro de 2022 tinha testemunhado o contrário e ilibado o antigo ditador.
Esta mudança de versão levou à retirada de um dos seus advogados, David Béavogui.
O advogado leu um texto ao tribunal no qual dizia que não podia "defender uma coisa e o seu contrário" e que já não tinha "força física e moral" para estar ao lado do seu cliente neste julgamento.
Moussa Dadis Camara e uma dezena de antigos militares e funcionários do Governo estão a ser julgados desde 28 de setembro de 2022 por dezenas de assassínios e uma série de crimes de violência sexual, tortura, rapto e sequestro, cometidos num estádio nos arredores de Conacri, em 28 de setembro de 2009 e nos dias que se seguiram.
Pelo menos 156 pessoas foram mortas e centenas de outras ficaram feridas, e pelo menos 109 mulheres foram violadas nesses dias, de acordo com o relatório de uma comissão de inquérito internacional mandatada pela ONU.
Presumivelmente, os números reais são mais elevados.
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