"Para o Brasil, é extremamente produtivo este regresso à União Europeia. O nosso país ficou seis anos afastado de qualquer atividade política internacional, menosprezando a importância do que significam as relações diplomáticas e o comércio exterior", declarou Lula da Silva, após uma reunião com Ursula von der Leyen e antes de um fórum empresarial e da cimeira UE-CELAC.
Falando num ponto de imprensa sem perguntas, na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, o chefe de Estado brasileiro vincou a sua intenção de "colocar o Brasil no centro do protagonismo internacional", dada a sua posição pró-europeia, contrária à do seu antecessor, Jair Bolsonaro.
"Queremos compartilhar com os parceiros do Mercosul e da América Latina e Caribe e aprofundar com a UE a discussão, não apenas do desenvolvimento industrial do investimento e crescimento económico, mas [...] também a questão climática", adiantou.
Apontando que o Brasil é "um país com uma forte tendência na produção de energia renovável", Lula da Silva salientou ser "uma prioridade do governo" brasileiro apostar nas energias alternativas.
O responsável anunciou, por isso, um "grande programa de transição energética", no qual se pretende que o bloco comunitário também participe.
"É um assunto que sei que é do interesse da UE e do Brasil", concluiu o chefe de Estado brasileiro.
Queremos aprofundar com a União Europeia a discussão sobre crescimento econômico, mas, sobretudo, sobre a questão climática. Vamos apresentar um programa de desenvolvimento do Brasil que envolve a transição energética, que queremos apresentar para a União Europeia também. O…
— Lula (@LulaOficial) July 17, 2023
A capital belga, Bruxelas, acolhe hoje e terça-feira a primeira cimeira em oito anos da UE com os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que contará com mais de 50 líderes, entre os quais Lula da Silva e o primeiro-ministro português, António Costa.
Esta que é a terceira cimeira da UE com a CELAC, oito depois da reunião de 2015, vai focar-se no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios, como as consequências da covid-19 e da guerra da Ucrânia causada pela invasão russa, as transições ecológicas e digitais e a retoma da ordem internacional baseada em regras.
O regresso ao poder do Presidente brasileiro, Lula da Silva, com uma posição pró-europeia também faz com que este seja o momento propício para reforçar os laços diplomáticos entre a UE e a CELAC.
Apesar da vontade comum de estreitar laços entre as regiões, a declaração final da cimeira está a causar divergências entre o bloco europeu e latino-americano, após oito rascunhos e de o texto ter passado de 13 páginas para sete na versão mais recente, consultada pela Lusa no domingo.
A causar maior fricção está a referência ao acordo da UE-Mercosul - o Mercado Comum do Sul, formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - por haver países que no bloco comunitário (como França e Áustria) contestam essa menção por razões comerciais e ambientais, razão pela qual a declaração final apenas deve salientar o trabalho em curso.
Outro dos pontos divergentes é referente à inclusão de uma menção à guerra da Ucrânia na declaração final, dadas as diferentes posições no bloco latino-americano (nomeadamente por parte do Brasil), estando para já apenas prevista a condenação, em termos gerais, do conflito.
Em termos mundiais, a UE e a CELAC representam quase 60 países, cerca de um terço do território, 14% da população (mil milhões de pessoas) e 21% do Produto Interno Bruto.
A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
[Notícia atualizada às 09h20]
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