"O acordo do Mar Negro, alcançado sob os auspícios do secretário-geral das Nações Unidas (ONU)), António Guterres, é muito importante especialmente para os países mais vulneráveis, porque, juntamente com as vias de solidariedade da UE, ajuda a garantir que os países mais necessitados têm acesso aos cereais e fertilizantes de que precisam", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, à entrada para a cimeira entre os 27 do bloco europeu e a Comunidade de Estados da América Latina e Caraíbas (CELAC), que hoje arrancou em Bruxelas.
Por isso, salientou Michel, "a UE apoia totalmente todos os esforços de António Guterres" para garantir a continuidade deste acordo.
Também numa mensagem publicada na rede social Twitter, o presidente do Conselho Europeu lamentou o anúncio por parte de Moscovo da suspensão do acordo de cereais pelo Mar Negro, defendendo que com a decisão está em causa a segurança agroalimentar a nível global.
"A Iniciativa de Cereais do Mar Negro beneficiou milhões [de pessoas] em todo o planeta. Lamento o anúncio que a Rússia fez hoje. Vai ameaçar a segurança alimentar e o acesso de populações em todo o mundo a cereais e produtos fertilizantes", disse Charles Michel no Twitter.
A Rússia suspendeu hoje o acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro a partir de portos ucranianos, argumentando que os compromissos assumidos em relação à parte russa não foram cumpridos.
"O acordo dos cereais está suspenso", disse o porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, durante a sua conferência de imprensa diária por telefone.
A atual prorrogação do acordo, assinado no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia sob a mediação da ONU e da Turquia, terminava hoje à noite. A par dos cereais ucranianos, o documento também abrangia a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.
Na contagem decrescente para tentar uma nova renovação do acordo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou na semana passada uma carta ao Presidente russo, Vladimir Putin, com uma proposta para facilitar as exportações russas de alimentos e fertilizantes e de cereais ucranianos.
Ainda nas mesmas declarações na capital belga, Charles Michel referiu que os líderes reunidos na cimeira UE-CELAC deverão divulgar "uma comunicação conjunta que dará um novo impulso para os próximos anos, no quadro das relações" comuns, nomeadamente a promoção de uma reunião de alto nível de dois em dois anos.
"O texto deve ser ambicioso", adiantou, sublinhando ainda que a maioria dos países da CELAC condena a agressão militar russa contra a Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro de 2022.
A reunião UE-CELAC decorre até terça-feira em Bruxelas, com a presença de mais de 50 líderes dos dois blocos, incluindo o primeiro-ministro português, António Costa.
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