"Devemos ter certeza (...) É totalmente lógico, especialmente depois dos ataques que foram cometidos", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Vershinin, em conferência de imprensa.
Vershinin explicou que, como é prática comum nas inspeções no mar, é feito um pedido e depois a inspeção para confirmar que o navio não transporta carga "nociva".
"Agora já não existe um corredor humanitário marítimo, agora é uma zona de risco militar máximo", sublinhou.
Também hoje, a ONU afirmou que ameaças contra navios civis que navegam no Mar Negro são "inaceitáveis".
"Também estamos preocupados com relatos de minas colocadas no mar Negro, ameaçando a navegação civil", disse a subsecretária-geral da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, numa reunião no Conselho de Segurança.
"O risco de o conflito se alastrar em resposta a um incidente militar no mar Negro -- intencional ou acidental -- deve ser evitado a todo o custo, pois pode levar a consequências catastróficas para todos nós", defendeu DiCarlo.
Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou "fortemente" os ataques russos dos últimos dias contra os portos ucranianos no mar Negro.
Depois de Moscovo iniciar a sua tentativa de bloqueio da costa ucraniana, tentando fechar o acesso da Ucrânia ao Mar Negro desde o início da invasão, em 24 de fevereiro do ano passado, Kiev respondeu que também considera qualquer navio que se dirija a portos russos como um objetivo militar.
O vice-ministro russo indicou que, além das "medidas de força", existem outras medidas económico-financeiras ligadas ao seguro dos navios envolvidos.
Também reconheceu que Moscovo busca novas rotas para seus produtos e fertilizantes, após a suspensão da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro na segunda-feira, e para isso mantém contactos com a Turquia.
Vershinin sustentou que a possibilidade de a frota da Marinha turca escoltar navios ucranianos é "perigosa" e "inviável", e também rejeitou a navegação dessas embarcações pelas águas territoriais de vários países até chegarem ao Bósforo.
"Eu não acho que se possa contornar a Rússia, não importa o que Kiev diga, quando se trata de resolver os problemas ligados ao mar Negro, à segurança alimentar. É simplesmente impossível", declarou.
A este propósito, assegurou que Moscovo tem em conta a preocupação que a suspensão do acordo suscitou nos países africanos, em vésperas da cimeira Rússia-África na próxima semana em São Petersburgo.
"Claro que existem contactos, esforços para que, nesse sentido, os países africanos não sintam as consequências negativas", disse, embora admitindo que ainda não existem acordos concretos.
Quanto aos cereais retidos nos portos europeus, referiu que apenas o Maláui e o Quénia receberam parte dessa carga desde o início da guerra há quase um ano e meio.
A Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, acordada há um ano pela Rússia, Ucrânia, Turquia e Nações Unidas, permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de alimentos de três portos no sul ucraniano, considerados cruciais para a descida dos preços globais e segurança alimentar nos países mais desprotegidos.
As autoridades russas fizeram saber que só voltam ao protocolo se as suas condições forem atendidas, nomeadamente o comércio dos seus próprios produtos agrícolas, prejudicado, segundo frisam, pelas sanções ocidentais.
As exigências da Rússia incluem também a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueamento da logística de transportes e dos seguros, o descongelamento de ativos e a reabertura do oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa, que explodiu a 05 de junho.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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