Festival cancelado na Malásia depois de beijo gay protagonizado por banda

O vocalista da banda insurgiu-se contra as leis opressivas contra a comunidade LGBTI+ no país predominantemente muçulmano e conservador. No entanto, ativistas queer locais acusaram Matty Healy de prejudicar a comunidade malaia e de fazer "ativismo performativo".

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Notícias ao Minuto
22/07/2023 11:58 ‧ 22/07/2023 por Notícias ao Minuto

Mundo

Direitos LGBTI+

Um festival de música em Kuala Lumpur, na Malásia, foi cancelado pelo governo após o primeiro dia do evento, depois de dois membros homens da banda britânica The 1975 terem dado um beijo em palco, numa crítica à criminalização da homossexualidade num país muito conservador.

O concerto da banda ocorreu na sexta-feira à noite, e em vídeos partilhados nas redes sociais, é possível ver Matt Healy, o vocalista (muitas vezes polémico) dos The 1975, a beijar prolongadamente Ross MacDonald, o baixista da banda, depois de um longo e explícito discurso contra as leis anti-LGBTI+ aplicadas no país.

"Cometi um erro. Quando estávamos a marcar concertos, não aprofundei sobre o assunto. Não percebo o ponto de convidar os The 1975 para um país e dizer-nos com quem é que podemos ter sexo", atirou o britânico.

O concerto acabou por ser terminado mais cedo, com Healy a dizer ao público que o grupo "acabou de ser banido de Kuala Lumpur".

A Reuters não confirmou se, de facto, a proibição entrou em efeito em pleno concerto, mas a verdade é que a popular banda de pop rock - que passou recentemente pelo Super Bock Super Rock - foi mesmo proibida de voltar a entrar na Malásia, anunciou um comité governamental que supervisiona a reprodução e produção artística por estrangeiros no país.

Através do Twitter, o ministro das Comunicações, Fahmi Fadzil, acrescentou que reuniu com a organização do festival Good Vibes, e garantiu que "não haverá compromissos contra quaisquer partes que desafiarem, criticarem ou violarem as leis malaias".

A banda não respondeu às perguntas da Reuters. Já a organização do festival, a promotora Future Sound Asia, lamentou o incidente, apontando que Healy "não honrou o compromisso" de se portar de uma forma considerada "adequada" pelas autoridades do país, apesar da banda ter "prometido" que cumpriria com as guias de orientação governamentais.

A homossexualidade é um crime na Malásia, um país predominantemente muçulmano, e grupos de direitos humanos têm vindo a alertar para a crescente ostracização das comunidades LGBTI+ no país. Em março, o governo implementou novas leis ainda mais restritivas, impondo um 'dress code' e um código de conduta para cidadãos estrangeiros, de forma a 'proteger a sensibilidade' dos locais.

A agência Reuters acrescentou que, apesar da forma de protesto ter sido aplaudida no evento e por organizações internacionais, as mesmas organizações de proteção de pessoas queer existentes na Malásia acabaram por criticar Matt Healy, acusando de "ativismo performativo" e de colocar em risco uma comunidade já em perigo.

"Matt Healy tornou sem dúvida a situação pior para malaios queer que vivem aqui, e enfrentam as consequências , porque todos sabemos que os políticos vão usar isto para empurrar a sua agenda", disse Carmen Rose, uma drag queen malaia, através do Twitter.

Esta não é a primeira vez que os The 1975 surgem no centro de uma polémica por causa de direitos LGBTI+. Em 2019, num concerto nos Emirados Árabes Unidos (outro país que criminaliza atos homossexuais), Healy beijou um fã do sexo masculino, levando a muitas críticas por partes das autoridades governamentais.

No domingo, a banda viaja para Jacarta, a capital da Indonésia, que é também o país com a maior população muçulmana do mundo, e que também tem atacado veementemente a comunidade LGBTI+, cancelando recentemente um evento por questões de segurança.

Leia Também: De Wu-Tang Clan a The 1975. Os grandes destaques da 2.ª noite do SBSR

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