Um festival de música em Kuala Lumpur, na Malásia, foi cancelado pelo governo após o primeiro dia do evento, depois de dois membros homens da banda britânica The 1975 terem dado um beijo em palco, numa crítica à criminalização da homossexualidade num país muito conservador.
O concerto da banda ocorreu na sexta-feira à noite, e em vídeos partilhados nas redes sociais, é possível ver Matt Healy, o vocalista (muitas vezes polémico) dos The 1975, a beijar prolongadamente Ross MacDonald, o baixista da banda, depois de um longo e explícito discurso contra as leis anti-LGBTI+ aplicadas no país.
"Cometi um erro. Quando estávamos a marcar concertos, não aprofundei sobre o assunto. Não percebo o ponto de convidar os The 1975 para um país e dizer-nos com quem é que podemos ter sexo", atirou o britânico.
O concerto acabou por ser terminado mais cedo, com Healy a dizer ao público que o grupo "acabou de ser banido de Kuala Lumpur".
The 1975 has been banned from Kuala Lumpur, Malaysia after Matty Healy and bandmate Ross MacDonald kissed on-stage during their set at Good Vibes Festival.
— Pop Crave (@PopCrave) July 21, 2023
Before the kiss, Healy gave a speech on his disappointment in the country’s discrimination against the LGBTQIA+ community. pic.twitter.com/XcHuPHiYr5
A Reuters não confirmou se, de facto, a proibição entrou em efeito em pleno concerto, mas a verdade é que a popular banda de pop rock - que passou recentemente pelo Super Bock Super Rock - foi mesmo proibida de voltar a entrar na Malásia, anunciou um comité governamental que supervisiona a reprodução e produção artística por estrangeiros no país.
Através do Twitter, o ministro das Comunicações, Fahmi Fadzil, acrescentou que reuniu com a organização do festival Good Vibes, e garantiu que "não haverá compromissos contra quaisquer partes que desafiarem, criticarem ou violarem as leis malaias".
A banda não respondeu às perguntas da Reuters. Já a organização do festival, a promotora Future Sound Asia, lamentou o incidente, apontando que Healy "não honrou o compromisso" de se portar de uma forma considerada "adequada" pelas autoridades do país, apesar da banda ter "prometido" que cumpriria com as guias de orientação governamentais.
A homossexualidade é um crime na Malásia, um país predominantemente muçulmano, e grupos de direitos humanos têm vindo a alertar para a crescente ostracização das comunidades LGBTI+ no país. Em março, o governo implementou novas leis ainda mais restritivas, impondo um 'dress code' e um código de conduta para cidadãos estrangeiros, de forma a 'proteger a sensibilidade' dos locais.
A agência Reuters acrescentou que, apesar da forma de protesto ter sido aplaudida no evento e por organizações internacionais, as mesmas organizações de proteção de pessoas queer existentes na Malásia acabaram por criticar Matt Healy, acusando de "ativismo performativo" e de colocar em risco uma comunidade já em perigo.
"Matt Healy tornou sem dúvida a situação pior para malaios queer que vivem aqui, e enfrentam as consequências , porque todos sabemos que os políticos vão usar isto para empurrar a sua agenda", disse Carmen Rose, uma drag queen malaia, através do Twitter.
There’s a time and place to get one’s message across and what Matt did was just performative activism. They can go back to their privileged life while we face the brunt of this whole mess.
— Carmen Rose ️️️ (@carrmnrose) July 22, 2023
Thousands of entertainers - both locally and internationally have come to Malaysia, performing while following the set rules and regulations.
— amiraaisya (@_amiraaisya) July 22, 2023
What Matt Healy did will not affect his career. But it will affect so many Malaysians in this industry.
Now, this issue will be used as… https://t.co/aJeWazAKC8
Esta não é a primeira vez que os The 1975 surgem no centro de uma polémica por causa de direitos LGBTI+. Em 2019, num concerto nos Emirados Árabes Unidos (outro país que criminaliza atos homossexuais), Healy beijou um fã do sexo masculino, levando a muitas críticas por partes das autoridades governamentais.
No domingo, a banda viaja para Jacarta, a capital da Indonésia, que é também o país com a maior população muçulmana do mundo, e que também tem atacado veementemente a comunidade LGBTI+, cancelando recentemente um evento por questões de segurança.
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