Depois de a controversa legislação que permite ao governo britânico deportar migrantes ilegais para o Ruanda ter passado na Câmara dos Lordes, na semana passada, um grupo de ativistas pelos direitos da comunidade LGBTQ+ e dos refugiados ‘pintou’ Londres com as caras dos políticos conservadores responsáveis pela medida, usando como mote o filme ‘Barbie’, que se estreou a 20 de julho.
Entre os visados está o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, cujo cartaz, elaborado tal e qual como se fizesse parte da campanha de marketing do filme, acusa que “este Ken é um grande c*****”.
“Rishi Sunak presidiu ao maior recuo dos direitos humanos de migrantes e de requerentes de asilo da história moderna britânica”, lê-se ainda.
A ministra britânica do Interior, Suella Braverman, também não escapou à ação do grupo Lesbians and Gays Support the Migrants (LGSM). Na verdade, o seu poster indica que “esta Barbie não é reivindicada pelos seus antecessores”.
“Suella Braverman disse aos jornalistas que tem uma ‘obsessão’ e um ‘sonho’ de deportar os migrantes e requerentes de asilo mais vulneráveis para a morte”, acusa o cartaz.
Por seu turno, a antiga ministra do Interior, Priti Patel, foi retratada com um sorriso, uma vez que “está desejosa de deportar a sua avó”.
“Priti Patel orquestrou o esquema do Ruanda, apesar de ter admitido que os seus próprios pais poderiam não ter sido aceites no Reino Unido com as suas leis da imigração”, complementa a campanha.
O conservador Jacob Rees-Mogg também não ficou esquecido, sendo acusado de ser “um supremacista branco” que gosta de fingir ser “um aristocrata dos anos 1930”, bem como de se “gabar do orgulho pelo passado colonial britânico, defender campos de concentração e de gritar insultos racistas na Câmara dos Comuns”.
Hi Barbie!
— Lesbians and Gays Support the Migrants (@lgsmigrants) July 21, 2023
Happy Barbie day everyone️
This week not only marks the cinematic event of the summer, but the Illegal Immigration Bill also passed a few days ago and it looks as though someone has been doing some alternative promo
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“Robert Jenrick pensa que 'a imigração ameaça canibalizar a compaixão do público britânico', ao mesmo tempo que pinta por cima de murais de crianças em centros de detenção'. Estás bem, querido?”, atira o cartaz destinado ao parlamentar, enquanto Lee Anderson é descrito como um Ken que é um “traidor de classe”.
O antigo deputado trabalhista está, na ótica do grupo, a “atiçar as chamas do ódio para aumentar o ego”, apesar da sua “origem na classe operária”.
Através da rede social Twitter, o coletivo apontou que “o tratamento dado por este governo aos migrantes e requerentes de asilo é um ultraje que viola os direitos humanos”, além de não “proteger aqueles que fogem da perseguição e de conflitos”, o que “tornará a vida para as pessoas em movimento ainda mais perigosa”.
“É importante recordar que ser fabuloso e ser um c***** são duas coisas muito diferentes”, rematou.
It’s important to remember that serving cunt and being a cunt are two very different things #ThisBarbieIsACunt
— Lesbians and Gays Support the Migrants (@lgsmigrants) July 21, 2023
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Recorde-se que a proposta de Lei sobre a Migração Ilegal é uma das principais medidas de Sunak para dissuadir pessoas de entrar no país ilegalmente através do Canal da Mancha. No ano passado chegaram ao Reino Unido através daquela rota um recorde de mais de 45 mil pessoas, contra menos de 300 em 2018. Este ano já se somam cerca de 13 mil migrantes.
A legislação permite ao Executivo deportar qualquer pessoa que entre ilegalmente no Reino Unido para o país de origem ou para "um país terceiro seguro", como o Ruanda, ao abrigo de um acordo já assinado com aquele país africano. As pessoas que tenham entrado ilegalmente podem também ser proibidas para sempre de voltar a entrar no país ou de pedir a nacionalidade britânica.
A lei sobrepõe-se a outros direitos em matéria de direitos humanos, deixando os candidatos de poder invocar as leis do Reino Unido relativas à escravatura moderna para evitar a deportação.
A proposta foi objeto de inúmeras críticas no Reino Unido e por organizações internacionais, tendo um primeiro voo para o Ruanda em junho de 2022 sido cancelado na sequência de uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH).
No final de junho, a justiça britânica declarou ilegal a proposta de lei, mas o Governo recorreu, aguardando-se uma decisão do Supremo Tribunal, a última instância judicial (equivalente ao Tribunal Constitucional), no final deste ano.
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