Sudão. ONU denuncia impacto "sem precedentes" da guerra sobre as crianças
A ONU denunciou hoje o impacto "sem precedentes" da guerra no Sudão, onde cerca de 14 milhões de crianças precisam de assistência humanitária, receando que a escalada da crise em desenvolvimento ultrapasse o conflito no Darfur há 18 anos.
© AFP via Getty Images
Mundo Sudão
O alerta foi dado pelo diretor executivo adjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Ted Chaiban, no encontro diário com a imprensa acreditada na ONU.
Aquele responsável disse que após 110 dias de conflito, a crise humanitária no Sudão se tornou uma "catástrofe que ameaça as vidas e o futuro de uma geração de crianças e jovens, que constituem 70% da população".
"Não é exagero dizer que a situação que as crianças enfrentam no Sudão não tem precedentes", afirmou Chaiban, que explicou que 1,7 milhões de crianças estão deslocadas no país ou para além das suas fronteiras, juntando-se a outros 1,9 milhões de crianças já deslocadas na crise anterior.
O conflito começou em 15 de abril, depois de o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) se ter rebelado contra o exército e, até agora, a guerra causou entre 1.000 e 3.000 mortos, de acordo com várias estimativas, e obrigou quase quatro milhões de pessoas a deslocarem-se para dentro e para fora do país.
Chaiban disse que pelo menos 435 crianças foram mortas e 2.025 feridas neste conflito, embora os números reais sejam provavelmente mais elevados, e disse que todos os dias as crianças são vítimas de assassínios, ferimentos e raptos, bem como de recrutamento para grupos armados e de agressões étnicas e baseadas no género.
Além disso, sofrem de subnutrição, doenças e do impacto psicológico do conflito, acrescentou.
"Vi as consequências das atrocidades cometidas contra crianças e mulheres nos dias mais negros do conflito no Darfur, há 18 anos, e estou profundamente preocupado por estarmos a assistir a uma repetição desses dias terríveis", vincou.
Igualmente presente no encontro com os jornalistas, Edem Wosornu, diretora de operações e defesa do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês), disse que a ajuda humanitária só chegou a cerca de 2,5 milhões de pessoas devido à dificuldade de acesso e à perigosidade da situação.
Wosornu também lamentou que o financiamento para o Sudão esteja num dos seus "níveis mais baixos" - apenas 25% dos 2,6 mil milhões de dólares (2,3 mil milhões de euros) solicitados - enquanto Chaiban sublinhou que, nos próximos 100 dias, a Unicef precisa de 400 milhões de dólares (363 milhões de euros) para ajudar as crianças mais vulneráveis.
Os dois responsáveis referiram que estão novamente a decorrer conversações entre as partes em conflito na cidade saudita de Jeddah e instaram-nas a chegar a um acordo sobre a cessação das hostilidades "para dar ênfase ao acesso humanitário" à população.
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