"O contexto geopolítico atual impulsionou um interesse renovado nos BRICS à medida que os países do Sul Global procuram alternativas num mundo multipolar", considerou recentemente a chefe da diplomacia sul-africana, Naledi Pandor, vincando que os BRICS não são "anti-Ocidente".
O grupo, que se reuniu pela primeira vez em junho de 2009, em Yekateringburg, na Rússia, passando a incluir a África do Sul no ano seguinte, no Brasil, no mandato de Lula da Silva, ganhou renovada importância após o isolamento da Rússia pelos países ocidentais na sequência da invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado.
O bloco, que acordou os critérios de admissão de novos membros na 14ª Cimeira realizada no ano passado na China, defende agora um Mundo mais "igualitário", "equilibrado" e regido por um "sistema inclusivo" de governança global, e ter "voz" nas instituições internacionais até agora dominadas pelos Estados Unidos e a Europa.
"Procuramos mudar as regras para serem mais justas, mas, em última instância, queremos promover um sistema aberto de relações económicas e políticas", frisou, por seu lado, o chefe de Estado sul-africano.
Cyril Ramaphosa, que sentiu a necessidade de explicar ao país a "política externa da África do Sul e os BRICS", às 20h, hora local, deste domingo, revelou que Pretória tem resistido à "pressão" [internacional] para "alinharmos com qualquer uma das potências globais ou com blocos influentes de nações", anunciando o apoio da África do Sul à expansão dos BRICS, mas sublinhando que a entrada do país em 2010 permitiu que o país tivesse um relacionamento "estratégico" com a China.
No primeiro trimestre deste ano, a África do Sul exportou 450 mil milhões de rands (21,6 mil milhões de euros) em mercadorias nos setores da mineração, manufatura e agricultura, sendo as maiores exportações para a China, seguida dos Estados Unidos, Alemanha, Japão e depois a Índia", anunciou o presidente sul-africano.
Todavia, o líder chinês Xi Jimping, apaziguou os "receios" do líder sul-africano num artigo de opinião publicado hoje na imprensa sul-africana.
"Não devemos temer nenhuma hegemonia e trabalhar uns com os outros como verdadeiros parceiros para impulsionar as nossas relações em meio ao cenário internacional em mudança", frisou.
Xi Jinpimg considerou ser necessário perspetivar os próximos 25 anos da cooperação com Pretória, sublinhando que "a África do Sul foi o primeiro país africano a assinar o documento de cooperação 'Belt and Road' com a República Popular da China. É o maior parceiro comercial da China em África há 13 anos consecutivos, além de ser um dos países africanos com maior volume de investimento chinês".
"Como diz um antigo poema chinês: "Com a maré alta e o vento de popa, é hora de navegar tranquilamente"", salientou o líder chinês.
Pequim tem alargado também a sua influência regional através da nova instituição bancária criada pelos BRICS, e sediada em Shanghai,
O Novo Banco de Desenvolvimento, que financia projetos de infraestrutura no Brasil, anunciou a abertura de um escritório regional na Índia, salientando que irá disponibilizar 30 mil milhões de dólares (27,3 mil milhões de euros) aos membros do grupo de 2022 até 2026, segundo a imprensa chinesa.
A China, que se tornou a segunda maior economia do mundo em 2010, e a Rússia, antigo aliado do ex-movimento de libertação de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (ANC, no poder), procuram expandir a sua influência económica nos países em desenvolvimento face às políticas dos EUA e da União Europeia (UE).
Nesse sentido, a África do Sul e o Brasil manifestaram o seu apoio à adesão de novos países, nomeadamente Argentina, Irão, Arábia Saudita, Bolívia, Cuba, Honduras, Venezuela, Argélia e Indonésia.
Todavia, a Índia, que é também uma das 10 maiores economias mundiais, expressou "algumas reservas" à entrada de novos membros nos BRICS, assinalando que Nova Deli tem "uma mente positiva e aberta quando se trata da expansão dos BRICS".
A Índia, um país que compartilha com os Estados Unidos a sua profunda ansiedade relativamente à ascensão mundial da China, reforçou substancialmente as relações de cooperação com a Administração Biden durante a visita de Estado que o primeiro-ministro Narendra Modi, efetuou a Washington, em junho.
Além de mega-acordos de cooperação nas áreas da Defesa, mineração, exploração espacial, tecnologia, telecomunicações, educação, clima e saúde, foi anunciado um investimento indiano na ordem de 1,5 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros) no setor da energia solar nos Estados Unidos.
A cimeira dos BRICS também deverá debater a "desdolarização" entre os seus países membros optando pelas respetivas moedas nacionais, a exemplo da política em curso que a Índia pretende potencializar com a rupia indiana, ou possivelmente através de uma "moeda única" como defende Lula da Silva.
Brasil, China, Índia e África do Sul vão ser representados pelos respetivos chefes de Estado na cimeira dos BRICS, que decorre entre 22 e 24 de agosto. A Rússia, que também integra o bloco, vai estar representada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.
O Presidente Vladimir Putin decidiu não comparecer à cimeira devido ao mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por alegados crimes de guerra na Ucrânia, segundo as autoridades sul-africanas.
Além disso, a África do Sul convidou mais de 60 líderes do Sul Global para o evento, incluindo os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da Bolívia, Luis Arce.
Estão também convidados vinte dignitários de organizações internacionais, como o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, e o Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat.
O bloco representa mais de 42% da população mundial e 30% do território do planeta, além de 23% do produto interno bruto (PIB) e 18% do comércio global.
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