Ao fim de cerca de dois meses da tentativa de motim levada a cabo pelo Grupo Wagner na Rússia, o líder desta milícia armada, Yevgeny Prigozhin, ‘saiu da toca’. Esta semana, o responsável divulgou um vídeo no qual aparentava estar em África, assegurando estar a agir para tornar a Rússia "ainda maior em todos os continentes". Contudo, no dia 23 de agosto, o voo em que seguia com outras nove pessoas ter-se-á despenhado perto de Moscovo, vitimando todos os passageiros a bordo. Mas, afinal, o que se sabe sobre a alegada morte do ‘chef’ do presidente russo?
Foi neste avião de luxo da empresa Embraer SA que Prigozhin viajou para a Bielorrússia, na sequência da mediação do presidente daquela antiga república soviética, Alexander Lukashenko, depois de ter sido acusado de traição por Vladimir Putin devido à rebelião militar fracassada contra as chefias de Moscovo.
A aeronave, até ontem, não tinha apresentado quaisquer problemas. Na verdade, de acordo com Ian Petchenik, do site Flight Radar, o voo parecia estar a decorrer normalmente, pelo menos até 30 segundos antes de se despenhar, perto de Moscovo.
Segundo o responsável, pelas 16h19 (hora em Lisboa), o jato fez uma "descida vertical repentina", tendo, em apenas 30 segundos, perdido cerca de 2.4 mil metros de altitude. "O que quer que tenha acontecido, aconteceu rapidamente", disse, em declarações à agência Reuters, tendo ainda dado conta de que, "depois do que quer que seja que tenha acontecido, podem ter-se debatido [com os comandos da aeronave]", mas não havia "nenhuma indicação de que pudesse haver algo de errado".
O Ministério de Situações de Emergência confirmou que o aparelho caiu perto da localidade de Kuzhenkino, quando fazia a ligação entre Moscovo e São Petersburgo, e que três das dez pessoas que viajavam a bordo da aeronave eram tripulantes.
"De acordo com dados preliminares, todos os que estavam a bordo morreram", informou a entidade.
Mais tarde, a Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia (Rosaviatsiya) indicou que Prigozhin era um dos passageiros, ainda que diferentes versões do ocorrido estejam a ser discutidas nas redes sociais russas.
Dúvidas e acusações pairam entre a opinião pública
Na verdade, canais próximos do Grupo Wagner afirmaram que o avião poderá ter sido abatido pela defesa antiaérea russa, enquanto outros equacionaram que o incidente poderá ter sido um atentado ou o resultado do lançamento de um drone inimigo.
De qualquer modo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não se mostrou surpreendido com a possível morte do chefe do Grupo Wagner, tendo frisado que “poucas coisas acontecem na Rússia sem que Putin tenha algo a ver com isso”.
Também o porta-voz do governo francês, Olivier Veran, disse que "existem dúvidas razoáveis" sobre o que aconteceu ao avião, destacando que "Prigozhin deixou para trás cemitérios e uma desordem terrível numa boa parte do globo".
Por seu turno, o conselheiro da presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak, sugeriu que "a eliminação espetacular de Prigozhin e do comandante do Grupo Wagner dois meses após a tentativa de golpe é um sinal de Putin às elites russas antes das eleições de 2024", acrescentando que o líder do Kremlin "não perdoa ninguém".
Entretanto, membros da milícia armada na Bielorrússia terão publicado um vídeo - não verificado - em que asseguram que estão "apenas a começar".
"Há muita especulação sobre o que é que o Grupo Wagner vai fazer. Só podemos dizer uma coisa: estamos apenas a começar. Preparem-se", ouve-se três soldados dizer, de cara tapada.
CHAOS NEARING IN 🇷🇺 & 🇧🇾
— Jason Jay Smart (@officejjsmart) August 23, 2023
️️️ “There is a lot of talk right now about what Wagner will be doing;
we'll say one thing:
We are starting.
Wait for us.” pic.twitter.com/3XAuPZNWHA
O governador de Tver, Igor Rudenia, assumiu o controlo pessoal da investigação sobre o sucedido.
Saliente-se que, pouco depois do anúncio da queda da aeronave, o presidente russo discursou num evento na região de Kursk, a propósito do aniversário de uma famosa batalha da Segunda Guerra Mundial. Ainda que tenha homenageado os cidadãos russos mortos durante a guerra na Ucrânia, o chefe de Estado manteve-se em silêncio quanto à alegada morte do líder da milícia armada russa, disse a BBC.
O mesmo meio realçou, contudo, que Putin poderá estar a aguardar a divulgação de uma versão oficial dos acontecimentos. Isto porque os 10 corpos recuperados no local do incidente ficaram completamente carbonizados, sendo necessário análises de ADN para proceder à sua identificação.
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