Morte presumida de Prigozhin suscita reações onde Wagner opera em África
A morte presumida do líder do grupo russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, suscitou reações nalguns países africanos onde os seus mercenários operam, com declarações de que não terá qualquer impacto na República Centro-Africana e dúvidas se será verdade no Burkina Faso.
© Mikhail Svetlov/Getty Images
Mundo Grupo Wagner
Do lado das autoridades centro-africanas, o comentário ao anúncio da morte de Prigozhin veio de Fidèle Gouandjika, assessor especial do Presidente centro-africano, Faustin Archange Touadéra, que garantiu que, a confirmar-se, não mudará muito as atividades do grupo no país.
"Temos um acordo de defesa com a Rússia e acho que os paramilitares continuarão a fazer o seu trabalho como antes. Encontrarão outro líder", disse em declarações à emissora alemã DW.
Segundo este responsável, Moscovo subcontratou o grupo Wagner para a RCA como fez para a guerra na Ucrânia, o equipamento utilizado pelos mercenários é entregue pela Federação Russa.
"Para nós, é a mesma coisa e nada vai mudar. Em relação às relações comerciais, temos uma cervejaria com os russos, uma licença de mineração e floresta, então esses aspetos permanecerão, mesmo que Prigozhin não esteja mais aqui", afirmou.
Christian Aimé Ndotah, um ativista da sociedade civil, tem a mesma avaliação, dizendo que, se confirmado, esse desaparecimento não afetará realmente a organização dos mercenários do grupo na RCA "porque o Wagner está muito bem estabelecido há vários anos" no país.
Segundo ele, após a tentativa de rebelião do líder do grupo contra o Kremlin, em junho, já se esperava uma reestruturação na gestão desta estrutura na capital centro-africana.
No Burkina Faso, onde os mercenários russos, como no Mali e outros países africanos, protegem o poder instalado e dão formação militar, a reação foi de alguma desconfiança sobre se é verdade a morte do líder do grupo Wagner, mas também alguma preocupação.
Lassané Sawadogo, coordenador do movimento "A França deve sair" reagiu comentando que no momento da notícia da queda do avião os próprios jornalistas se questionavam se o chefe do grupo paramilitar Wagner estava em África ou no ocidente.
Na segunda-feira, circularam nas redes sociais vídeos, cuja autenticidade e data não foram confirmadas, mostrando Yevgeny Prigozhin afirmando estar em África e fazendo declarações sobre "tornar a Rússia ainda maior em todos os continentes e a África ainda maior.
"Soube que o avião caiu e que Prigozhin poderia estar no avião. Francamente, ouvi a notícia com muita preocupação e perguntei-me porque isso aconteceu. O meu ponto de vista? Muitas pessoas falam só de Prigozhin, esquecendo que há outras nove pessoas", acrescentou Lassané Sawadogo, pedindo cautela.
Sidi Mohamed, militante do Patriotas do Norte, disse que os membros deste movimento "tomaram as informações como 'fake news'".
No Mali, onde o Wagner recentemente aumentou a sua presença, a morte foi um choque para alguns, de acordo com o correspondente da Rádio França Internacional (RFI) na região, Serge Daniel.
Em localidades no sul e no centro do país, combatentes da milícia Wagner fizeram um minuto de silêncio pela morte do seu líder, segundo fontes locais citadas numa reportagem feita pela RFI, mas do lado das autoridades do país não se conhece qualquer comentário.
Cerca de 10.000 mercenários do grupo Wagner estarão destacados em vários países da África: Mali, Líbia, Sudão, República Centro-Africana e Moçambique, embora sem confirmação oficial neste país lusófono.
A Rússia também realiza operações de influência em vários outros países: Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Zimbabué e Madagáscar.
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