Cerca de 200 pessoas juntaram-se no domingo em Jacksonville, na Florida, no local onde Ryan Palmeter matou três pessoas negras num tiroteio junto a uma loja, para apelar ao fim do racismo no país e a uma resposta por parte das autoridades norte-americanas.
Ju’Coby Pittman, uma deputada local e líder na comunidade afro-americana em Jacksonville, mostrou-se destroçada com o ataque, com motivações raciais.
"Estou enojada e estou cansada de me sentir enojada e cansada. Estas pessoas não mereciam o que lhes aconteceu", afirmou.
Vários familiares e amigos das três vítimas também lamentaram o incidente e contaram histórias sobre a vida de Anolt Joseph “AJ” Laguerre Jr., de 19 anos, Jarrald De’Shaun Gallion, de 29, e Angela Michelle Carr, de 52 anos.
Terresa White, pastora num centro cristão local, pediu ainda que o tiroteio resultasse numa mudança na atitude da população, da comunidade e no país, face ao crescimento do ódio contra pessoas negras. "Vamos garantir que eles têm uma celebração da vida, mas que faça a diferença nesta comunidade. Podemos admitir que há um problema. E podemos admitir que há ações a tomar", afirmou.
Apesar das mensagens de condenação ao racismo e à discriminação racial, a vigília ficou marcada pela reafirmação das autoridades em considerar as circunstâncias como extraordinárias e, ainda pelos assobios ao governador da Florida, Ron DeSantis.
People rightfully booed Gov DeSantis at the Jacksonville vigil because politicians like him continue to perpetuate white supremacy with racist policies instead of condemning it.
— Katie Hathaway (@khathaway1) August 28, 2023
Watch the video of Rep @AngieNixon who is a leader and voice for ALL in Florida.⬇️ https://t.co/Lrq0hVtg32 pic.twitter.com/Lub0saytWF
Na sequência do ataque, muitos ativistas acusaram DeSantis de criar um ambiente hostil para as pessoas afro-americanas na Florida, ao atacar questões que promovem igualdade e inclusão racial, proibir livros que contenham críticas à escravatura e censurar autores negros em bibliotecas escolares.
DeSantis orgulha-se ainda de proibir o ensino da Teoria Crítica do Racismo (ou CRT, na sigla em inglês), uma corrente teórica que examina o racismo e o seu impacto na sociedade norte-americana, nomeadamente através da discriminação racial no acesso à educação, ao mercado da habitação e ao apoio jurídico.
E, recentemente, o estado da Florida divulgou os novos materiais escolares para o próximo ano letivo, nos quais é referido que a escravatura foi "benéfica" para a comunidade negra nos Estados Unidos.
O governador, que é também candidato à Casa Branca nas eleições de 2024 (e que continua atrás de Donald Trump nas sondagens), procurou também ele atirar as culpas para o caráter do atirador, a quem acusou de ser um "escumalha".
DeSantis teve, eventualmente, de esperar que os assobios se silenciassem, e os apupos levaram mesmo Ju’Coby Pittman a pedir que o público deixasse o governador falar. "Hoje não é sobre partidos. Uma bala não conhece um partido", disse.
No sábado, Ryan Palmeter, de 21 anos, tentou entrar na Universidade Edward Waters, uma instituição predominantemente negra, com uma arma semiautomática, mas foi travado pela segurança. Palmeter encaminhou-se então para uma loja e abriu fogo, matando três pessoas negras.
O jovem atirador acabou por disparar sobre si próprio e morrer, depois de a polícia cercar o perímetro do estabelecimento. Para trás, Palmeter deixou manifestos em que defendia ideais profundamente racistas e violentos, assim como a ideia de supremacia branca, e a arma usada no tiroteio tinha suásticas embutidas.
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