O Canadá emitiu na quarta-feira um alerta para as pessoas 'queer' canadianas que viajem para o país vizinho, após vários ataques legislativos promovidos por estados norte-americanos conservadores. É a primeira vez que o governo de Ottawa avisa para os limites impostos à comunidade LGBTI+ nos Estados Unidos.
No comunicado, divulgado no site do governo, as autoridades afirmam que "alguns estados aplicaram leis e políticas que podem afetar pessoas 2SLGBTI+".
O '2S' na sigla serve para identificar os povos indígenas no Canadá - agrupados como 'Two-Spirit' (ou 2S), que são reconhecidos como os primeiros povos a habitar os territórios agora canadianos e, portanto, as primeiras pessoas 'queer' a habitar a região.
No alerta, o executivo liderado por Justin Trudeau pede ainda que os cidadãos "verifiquem as leis estatais e locais relevantes". E, clicando no aviso, o governo encaminha os utilizadores para outra página onde afirma que as pessoas 'queer' "estão sujeitas, e devem seguir, as leis aplicadas no seu destino, mesmo que essas leis infrinjam os seus direitos humanos".
"Nem todos os países têm os mesmos valores e sistema legal que temos no Canadá", aponta o país.
Os avisos emitidos pelas autoridades canadianas surgem depois do crescimento de políticas anti-LGBTI+ em estados governados por uma maioria do Partido Republicano. Estados como o Texas, Florida, Oklahoma, Nebraska e muitos outros passaram, por exemplo, a proibir qualquer tipo de intervenção médica que apoie pessoas transgénero, seja a nível cirúrgico, médico ou de acompanhamento psicológico.
No Texas, o governo regional aprovou ainda uma lei que pune pais que procurem tratamentos de afirmação de género para os seus filhos.
Também passou a ser limitado, em muitos estados, a abordagem de assuntos e questões LGBTI+ em escolas e manuais escolares, ameaçando-se mesmo professores que esclareçam dúvidas feitas por estudantes 'queer' (mesmo que estas o façam devido a uma ambiente familiar hostil).
Mapa da HRC sobre os estados que limitam tratamentos de afirmação de género© Human Rights Campaign
Segundo a organização não-governamental Human Rights Campaign, uma das maiores associações de defesa dos direitos de pessoas 'queer' nos EUA, foram aprovadas mais de 500 leis anti-LGBTI+ em parlamentos estatais por todo o país. A organização declarou um estado de emergência, considerando que a promoção destas leis tornou o país perigoso para a comunidade.
As leis aplicadas por estados conservadores, e a promoção das mesmas por parte de candidatos republicanos a nível nacional (como Donald Trump, Ron DeSantis ou Vivek Ramaswamy), têm-se refletido num aumento da violência contra pessoas queer ou aliados. O mais recente caso de violência ocorreu na Califórnia, onde uma mulher heterossexual foi morta a tiro por ter uma bandeira LGBTI+ na fachada da sua loja.
Leia Também: Mulher morta a tiro na Califórnia devido a bandeira LGBTQ+ na sua loja