"Governos militares não são solução", diz Guterres após golpes em África

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse hoje que "governos militares não são a solução" ao abordar a sucessão de golpes militares dos últimos meses em África, exortando à criação de "instituições democráticas credíveis".

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Lusa
31/08/2023 18:32 ‧ 31/08/2023 por Lusa

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"Muitos países enfrentam desafios de governação profundamente enraizados. Mas os governos militares não são a solução. Eles agravam os problemas. Não conseguem resolver uma crise, eles só podem piorar a situação", disse Guterres, numa conferência de imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.

"Exorto todos os países a agirem rapidamente no sentido de estabelecer instituições democráticas credíveis e o Estado de direito", frisou.

Na quarta-feira, o ex-primeiro ministro português já havia "condenado firmemente a tentativa de golpe em curso" no Gabão como forma de resolver "a crise pós-eleitoral".

Questionado sobre o que pode ser feito em relação à situação que África atravessa, Guterres frisou que, por um lado, é necessário reforçar a capacidade de apoiar "as diferentes instituições africanas, a União Africana, as diferentes organizações regionais nos seus esforços diplomáticos para trazer paz, estabilidade e democracia ao continente africano".

"Mas, ao mesmo tempo, precisamos de criar condições que permitam aos africanos abordar as causas profundas dos problemas que enfrentam. E a mais dramática dessas causas profundas reside na falta de desenvolvimento adequado. O desenvolvimento é um objetivo central se quisermos criar condições para a paz e a estabilidade em África", defendeu.

De acordo com o secretário-geral, se África desfrutar de mais equidade e justiça na forma como a economia global é gerida, desfrutará também "de melhores condições para enfrentar as causas profundas das muitas situações de instabilidade política e, infelizmente, dos golpes de Estado".

António Guterres aproveitou a ocasião para anunciar a sua agenda para os próximos dias, quando viajará para a Cimeira Africana do Clima, no Quénia, para a Cimeira ASEAN-ONU, na Indonésia, para a Cimeira do G20, na Índia, e para a Cimeira do G77 e da China, em Cuba.

Na Cimeira Africana do Clima, em Nairobi, o líder da ONU abordará "duas das injustiças mais graves da crise climática".

"Em primeiro lugar, os países de todo o continente africano não contribuíram com quase nada para o aquecimento global e, no entanto, estão na linha da frente das atuais tempestades, secas e inundações", lembrou.

Em segundo lugar, "muitos governos africanos lutam para investir em energias renováveis quando recursos abundantes -- energia solar, eólica, hidroelétrica e minerais essenciais -- estão à sua porta", frisou.

"Níveis elevados de dívida e taxas de juro elevadas dificultam o seu acesso ao financiamento necessário. Precisamos de esforços globais para colocar África na vanguarda da revolução das energias renováveis", acrescentou.

De Nairobi, Guterres partirá para a 13.ª Cimeira ASEAN-ONU na Indonésia, onde as suas discussões centrar-se-ão, entre outros pontos, nos esforços para envolver no diálogo todas as partes do conflito em Myanmar.

De Jacarta, o secretário-geral viajará para Deli, para a Cimeira do G20, onde a sua mensagem será dirigida às maiores economias do mundo, para que acelerem a redução das emissões poluentes e apoiem os países que já estão a sofrer as consequências de décadas de aquecimento global causado pelos combustíveis fósseis.

Por último, na Cimeira do G77 e da China, em Cuba, Guterres irá concentrar-se "em colocar a Agenda 2030 de novo no caminho certo, em usar a ciência e a tecnologia para o bem, e garantir que o multilateralismo produz benefícios para todos os países".

"Aguardo com expectativa o envolvimento com os líderes globais nestas quatro cimeiras muito diferentes, antes que o mundo se reúna para a abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas em Nova Iorque", acrescentou.

[Notícia atualizada às 19h33]

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