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Chile: O golpe militar de Augusto Pinochet e a instalação da ditadura

O golpe de estado de 1973 foi o culminar de uma experiência de três anos de Governo do socialista Salvador Allende, a quem sucedeu o ditador Augusto Pinochet.

Chile: O golpe militar de Augusto Pinochet e a instalação da ditadura
Notícias ao Minuto

08:20 - 04/09/23 por Lusa

Mundo Chile/50 anos

Estes são alguns dos principais acontecimentos do últimos meses do Governo da Unidade Popular e do período que se seguiu ao golpe de 11 de setembro:

1973

Março

04 -- A Confederação da Democracia, coligação da oposição liderada pelo PN e PDC vence as eleições legislativas (54,18%), elege 87 dos 150 deputados mas falha a maioria de dois terços que lhe permitiria demitir o Presidente. Apesar do recuo face às municipais, a UP garante 63 lugares (43,28%).

28 -- Os militares abandonam o Governo.

Maio

Greve dos funcionários e quadros (engenheiros) nas minas de cobre de El Teniente, apoiada pela direita.

Junho

20 -- O Senado destitui dois ministros.

21 -- Greve geral após um apelo da UP contra a reação e o fascismo. 600.000 manifestam-se em Santiago do Chile, a capital.

27 -- Tentativa de assassinato do general Carlos Prats, militar constitucionalista e legalista. Proclamação do estado de emergência devido ao clima e violência no país.

29 -- Tentativa de golpe de Estado ('Tanquetazo'), em que uma coluna de tanques ataca o palácio presidencial de La Moneda mas é reprimida pelo general Prats e as forças armadas legalistas. Allende pede aos trabalhadores para se defenderem "com o que têm". A Central Única dos Trabalhadores (CUT) apela à ocupação das fábricas. Os combates prolongam-se por três horas. Allende pede ao Parlamento poderes extraordinários, que lhe são negados.

Julho

16 -- Organização paramilitar Pátria e Liberdade anuncia a decisão de entrar na clandestinidade para derrubar o Governo.

25 -- Num cenário de grave crise económica, nova greve dos camionistas, seguida por uma paralisação dos taxistas. Entre 1971 e 1973 a inflação dispara de 22% para 600%.

27 -- Assassinato pelo Patria y Libertad do capitão Arturo Araya, chefe da Casa militar de Salvador Allende. No mesmo dia, nova greve dos camionistas financiada pela CIA, que paralisa o país.

Agosto

Diálogo UP-PDC para pôr termo à crise. Os democratas-cristãos colocam condições muito severas.

9 -- Novo Governo com os comandantes dos três ramos das Forças Armadas.

18-27 -- Os generais demitem-se do Governo. Multiplicação dos atentados de extrema-direita, rusgas militares a fábricas, sedes partidárias, sindicatos, em busca de armas e em conformidade com uma lei votada pelo Parlamento. Marinheiros que tinham alertado sobre preparativos de um golpe são presos e torturados.

22 -- Parlamento vota moção de censura contra o Governo pela sua gestão das greves dos camionistas.

23 -- O general Augusto Pinochet Ugarte substitui o general Prats como ministro do Interior e de comandante em chefe das Forças Armadas. Cai o Governo que Allende tinha designado como "o gabinete da última hipótese".

28 -- Novo Governo com quatro militares.

Setembro

4/5 -- 700.000 pessoas desfilam em Santiago pelo terceiro aniversário da UP.

5 -- Manifestação de mulheres pela demissão de Allende.

7 -- Allende procura renovar o diálogo com o PDC e prepara para 11 de setembro um referendo sobre a reforma constitucional.

10 -- Allende apela a um referendo.

11 -- Golpe de estado militar. Às primeiras horas do dia, a Marinha investe sobre a cidade de Valparaíso, onde na véspera decorreram os preparativos do golpe. O general Pinochet lança o assalto a Santiago.

Allende recusa negociar com os militares e morre em La Moneda, cercada e bombardeada pela aviação, mas antes consegue emitir uma mensagem via rádio : "Não vou renunciar. Pagarei com a minha vida a lealdade do povo. Serão estas as minhas últimas palavras e tenho a certeza que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza que, pelo menos, darei uma lição moral que castigará a infâmia, a cobardia e a traição".

Uma junta militar dirigida pelos chefes dos quatro ramos exerce o poder supremo. Proclama o fim do Governo e exige a rendição dos principais dirigentes da UP. Dissolve o Congresso nacional e assume o poder legislativo. É declarado o "estado de guerra interna" e instaurado o recolher obrigatório. A liberdade de imprensa é suprimida e instaurada a censura.

Pinochet assume a chefia a junta após eliminar alguns oficiais em desacordo. Desencadeada uma sangrenta repressão em todo o país e instaurado um regime ultraliberal na área económica. Os números oficiais da repressão chilena apontam para 3.197 vítimas de desaparecimentos ou execuções e 28.461 vítimas de tortura. Diversos historiadores e organizações de direitos humanos referem-se de 200.000 a 300.000 pessoas presas e torturadas.

12 -- Abertura do Estádio Nacional em Santiago como centro de detenção em massa. Cerca de 7.000 pessoas são detidas, muitas serão torturadas e mortas.

13 -- Neste dia e seguintes a Constituição é suspensa, os partidos políticos são declarados ilegais e os seus bens confiscados, os sindicatos suprimidos, os registos eleitorais destruídos.

15 -- O cantor e compositor Victor Jara, detido em 11 de setembro e detido no Estádio Nacional, é torturado durante quatro dias, dedos partidos e língua cortada, antes de ser executado.

Nas semanas que se seguem ao golpe, são abertos centros de detenção locais por todo o país (Vila Grimaldi e Colonia Dignidad). A repressão abate-se de forma sistemática sobre dirigentes, membros e simpatizantes dos partidos e sindicatos de esquerda que tinham participado ou apoiado o Governo de Unidade Popular. A oposição ao novo regime é esmagada.

23 -- Morte de Pablo Neruda em Santiago, com recentes investigações a indicar que foi envenenado. O seu funeral, com presença de forças militares, foi a primeira manifestação de protesto contra o terror instalado.

Outubro

O general Sérgio Arrelano Stark efetua uma ronda pelos campos militares e impõe uma série e execuções sumárias, no que ficou designado de "caravana da morte".

Novembro

9 -- A VI esquadra dos Estados Unidos é vista ao largo do Chile.

1974

Junho

1 -- Criação oficial da Dirección de Inteligencia Nacional (Direção Nacional de Informação, DINA), a polícia política da ditadura, que visa a eliminação dos militantes de esquerda e de toda a oposição em geral. Administra centros de detenção e de tortura clandestinos. O seu chefe, Manuel Contreras Sepúlveda, é colocado diretamente sob as ordens do general Pinochet.

Julho

20 -- Por decreto, Pinochet torna-se "Chefe supremo da nação".

Setembro

30 -- O general Prats e sua mulher são assassinados em Buenos Aires por agentes da DINA.

Dezembro

17 -- Pinochet designa-se a si próprio chefe de Estado, concentrando todo o poder executivo, enquanto a junta detém o poder legislativo.

A política económica da junta é inspiradas pelos "Chicago boys", um grupo e economistas formados na universidade de Chicago sob influência das teorias neoclássicas de Friedrich von Hayek e Milton Friedman e baseia-se no conceito de que o Estado deve perder inteiramente a função preponderante que tinha assumido, com as atividades económicas a serem reguladas pelo mercado.

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