Depois de mais um episódio na onda de violência crescente no bairro de Christiania, as autoridades de Copenhaga, a capital da Dinamarca, estão a apelar aos visitantes estrangeiros que evitem comprar produtos de marijuana no popular refúgio anarquista.
O alerta surgiu depois de, no passado dia 26 de agosto, um homem de 30 anos ter sido morto e outros quatro terem ficado feridos num confronto entre gangues ligados ao narcotráfico na zona - um deles sendo os afamados Hells Angels, a organização criminosa internacional que viu dezenas dos seus membros serem condenados em Portugal.
Na sexta-feira, um membro de outro gangue, de 28 anos, foi detido no âmbito da investigação ao tiroteio.
"A espiral de violência em Christiania é profundamente preocupante", afirmou a autarca de Copenhaga, Sophie Hæstorp Andersen, citada pela Associated Press, apelando a que as "centenas de milhares de turistas e os novos estudantes estrangeiros, que acabaram de se mudar para Copenhaga, se mantenham afastados de comprar erva e outras drogas em Pusher Street".
Apesar da venda de marijuana ser ilegal na Dinamarca, o bairro de Christiania mantém-se juridicamente uma exceção no sistema dinamarquês. Desde os anos 70 que os ideais democráticas pseudo-anarquistas, sem presença policial e Estado, e a vivência em comuna imperam na forma como o bairro se regula, após o crescimento do movimento hippie nos Estados Unidos, permitindo apenas algumas leis aplicáveis no resto da capital.
É estritamente proibido entrar com armas e com materiais de estilo militar e policial na zona, e a venda de drogas pesadas e sintéticas também é ilegal, sendo apenas legal a venda e consumo de canábis e de outros estupefacientes de origem natural.
Atualmente, cerca de 700 adultos e 150 crianças vivem em Christiania.
Este oásis para a descriminalização das drogas leves e para a vida antissistema tornou Christiania, no entanto, um dos mais populares destinos turísticos na Dinamarca. Ao mesmo tempo, permitiu a entrada de organizações criminosas ligadas ao narcotráfico, que se aproveitem da flexibilidade legal para operar a partir dali.
Hæstorp Andersen acrescentou que "embora possa parecer inocente comprar canábis para uma noite, o facto é que o dinheiro acaba nos bolsos de gangues criminosos que dispararam nas ruas e põem as pessoas inocentes em risco".
No dia seguinte ao tiroteio no final de agosto, os residentes da área tentaram fechar a Pusher Street, a rua onde o comércio de canábis é mais generalizado e visível, o coração de Christiania. Foram colocadas barricadas, que rapidamente foram retiradas por homens que as autoridades acreditam estarem ligadas ao narcotráfico.
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