O exército no poder rejeitou o texto da ASEAN, cujas decisões considerou tendenciosas e unilaterais, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicado pelo jornal estatal Global New Light of Myanmar.
A junta militar apelou ainda à organização para que respeite "os princípios fundamentais da Carta da ASEAN, incluindo a não-ingerência nos assuntos internos dos Estados membros".
Os chefes de Estado e de Governo da ASEAN, reunidos em Jacarta, apelaram na terça-feira às partes envolvidas no conflito para "desanuviar a violência e pôr fim aos ataques dirigidos a civis".
O chefe da diplomacia indonésia, Retno Marsudi, admitiu que o plano de paz elaborado pela ASEAN em 2021 não resultou em quaisquer progressos significativos, com a junta a recusar-se, em particular, a dialogar com os opositores.
Myanmar faz parte da ASEAN, mas a junta militar no poder desde 2021 não é convidada para participar nas reuniões de alto nível do bloco regional de 10 países.
A ASEAN também confirmou na terça-feira que a presidência rotativa da organização para 2026 foi retirada a Myanmar e entregue às Filipinas.
Myanmar vive um conflito que já provocou mais de três mil mortos e centenas de milhares de deslocados desde o golpe militar de 01 de fevereiro de 2021.
O golpe derrubou o governo eleito da líder da Liga Nacional para a Democracia e prémio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi, detida desde então, e pôs fim a uma década de regime democrático.
Em fevereiro, a junta militar admitiu que não controlava mais de um terço do país com mais de 53 milhões de habitantes.
Segundo analistas, as Forças de Defesa do Povo, que lutam contra a junta, surpreenderam-na com a sua eficácia e arrastaram o exército para um pântano sangrento.
Em represália, a junta incendiou aldeias, efetuou execuções extrajudiciais e recorreu a ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia, segundo opositores e grupos de defesa dos direitos humanos.
Apesar da falta de resultados do acordo de 2021, o Presidente da Indonésia, Joko Widodo, insistiu na terça-feira que a ASEAN deve incentivar um diálogo nacional inclusivo para resolver a crise e destacou a importância do cumprimento do acordo de 2021.
"Devemos lembrar que o consenso de cinco pontos é o esforço coletivo da ASEAN, como uma família, e como acordado pelos líderes da ASEAN em Jacarta em abril de 2021. O consenso continuará a ser a principal orientação da ASEAN sobre Myanmar", afirmou Joko Widodo.
O acordo da ASEAN exige o fim imediato da violência em Myanmar e um "diálogo construtivo entre todas as partes interessadas" para encontrar uma "solução pacífica no interesse dos povos".
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