Myanmar critica ASEAN por condenar violência dos militares contra civis

A junta birmanesa criticou hoje a declaração dos líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), reunidos numa cimeira em Jacarta, que condenou a violência contra civis em Myanmar (antiga Birmânia).

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© YASUYOSHI CHIBA/POOL/AFP via Getty Images

Lusa
06/09/2023 09:41 ‧ 06/09/2023 por Lusa

Mundo

Myanmar

O exército no poder rejeitou o texto da ASEAN, cujas decisões considerou tendenciosas e unilaterais, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros publicado pelo jornal estatal Global New Light of Myanmar.

A junta militar apelou ainda à organização para que respeite "os princípios fundamentais da Carta da ASEAN, incluindo a não-ingerência nos assuntos internos dos Estados membros".

Os chefes de Estado e de Governo da ASEAN, reunidos em Jacarta, apelaram na terça-feira às partes envolvidas no conflito para "desanuviar a violência e pôr fim aos ataques dirigidos a civis".

O chefe da diplomacia indonésia, Retno Marsudi, admitiu que o plano de paz elaborado pela ASEAN em 2021 não resultou em quaisquer progressos significativos, com a junta a recusar-se, em particular, a dialogar com os opositores.

Myanmar faz parte da ASEAN, mas a junta militar no poder desde 2021 não é convidada para participar nas reuniões de alto nível do bloco regional de 10 países.

A ASEAN também confirmou na terça-feira que a presidência rotativa da organização para 2026 foi retirada a Myanmar e entregue às Filipinas.

Myanmar vive um conflito que já provocou mais de três mil mortos e centenas de milhares de deslocados desde o golpe militar de 01 de fevereiro de 2021.

O golpe derrubou o governo eleito da líder da Liga Nacional para a Democracia e prémio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi, detida desde então, e pôs fim a uma década de regime democrático.

Em fevereiro, a junta militar admitiu que não controlava mais de um terço do país com mais de 53 milhões de habitantes.

Segundo analistas, as Forças de Defesa do Povo, que lutam contra a junta, surpreenderam-na com a sua eficácia e arrastaram o exército para um pântano sangrento.

Em represália, a junta incendiou aldeias, efetuou execuções extrajudiciais e recorreu a ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia, segundo opositores e grupos de defesa dos direitos humanos.

Apesar da falta de resultados do acordo de 2021, o Presidente da Indonésia, Joko Widodo, insistiu na terça-feira que a ASEAN deve incentivar um diálogo nacional inclusivo para resolver a crise e destacou a importância do cumprimento do acordo de 2021.

"Devemos lembrar que o consenso de cinco pontos é o esforço coletivo da ASEAN, como uma família, e como acordado pelos líderes da ASEAN em Jacarta em abril de 2021. O consenso continuará a ser a principal orientação da ASEAN sobre Myanmar", afirmou Joko Widodo.

O acordo da ASEAN exige o fim imediato da violência em Myanmar e um "diálogo construtivo entre todas as partes interessadas" para encontrar uma "solução pacífica no interesse dos povos".

Leia Também: Joko Widodo pede diálogo inclusivo para resolver questão de Myanmar

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