Lina, de 11 anos, viajou quase 300 quilómetros, com os pais e o irmão, desde Casablanca até Moulay Brahim, no Alto Atlas (sul), para levar comida.
Carregando uma caixa com pacotes de bolachas, a criança explicou à Lusa que um grupo de vizinhos se juntou para comprar água e comida, que hoje entregaram na vila localizada no Alto Atlas.
"Fiquei muito assustada com o sismo. Quisemos ajudar as pessoas", disse.
Antes, um grupo de 10 voluntários de Meknès (centro-norte) chegara à povoação em duas carrinhas, carregadas com cerca de 40 sacos com comida: massa, lentilhas, farinha, açúcar, leite, manteiga, bolos.
"Cada saco vale cerca de 50 euros em comida", explicou Anouar.
"Somos um grupo de jovens, quisemos simplesmente ajudar. Não somos políticos nem nada. Viemos com o objetivo de que toda a gente faça o mesmo que nós", afirmou.
Na estrada de Marraquexe para o sul do país, em direção à cordilheira do Atlas, são inúmeros os carros de cidadãos carregados de bens, muitos com fardos de sacos presos com cordas em cima do tejadilho. Muitos têm a bandeira de Marrocos presa ao capô e circulam com os quatro piscas ligados.
Ridouane, de Marraquexe, percorre as ruas da vila turística de Ouirgane, onde os efeitos do sismo são bem visíveis nas casas derrocadas.
O jovem, de 25 anos, e três amigos trouxeram roupa para crianças e idosos.
"Queremos ajudar as pessoas. O que aconteceu não é normal", comentou, acrescentando: "Nós também sentimos o sismo, mas não como aqui".
"Amanhã [quarta-feira] vamos voltar com mais coisas, 'insha'Allah' [se Deus quiser]", prometeu.
A ajuda oficial também já chegou ao país: bombeiros do Qatar, unidades militares espanholas, organizações de segurança e de socorro do Dubai e equipas da Malásia têm apoiado as autoridades nos esforços de resgate.
Até ao momento, Marrocos aceitou a ajuda de quatro países para enviar equipas de busca e salvamento: Espanha, Reino Unido, Qatar e Emirados Árabes Unidos.
Portugal já manifestou também disponibilidade para enviar ajuda.
O balanço provisório do terramoto que atingiu Marrocos na sexta-feira à noite subiu para 2.862 o número de mortos e para 2.562 o de feridos, anunciou na segunda-feira o Ministério do Interior marroquino.
As consequências do sismo causaram mortos numa dezena de províncias, mas as mais afetadas são Al Haouz, a sul de Marraquexe e perto do epicentro, com 1.604 mortos, seguida de Taroudant (976 mortos).
O epicentro do sismo está localizado numa zona montanhosa do Alto Atlas, onde os deslizamentos de terra dificultam o acesso às aldeias afetadas, como a cidade de Ighil.
O tremor de terra, cujo epicentro se registou na localidade de Ighil, 63 quilómetros a sudoeste da cidade de Marraquexe, foi sentido em Portugal e Espanha, tendo atingido uma magnitude de 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos. O Serviço Geológico dos Estados Unidos registou uma magnitude de 6,8.
Este sismo é o mais mortífero em Marrocos desde aquele que destruiu Agadir, na costa oeste do país, em 29 de fevereiro de 1960, causando entre 12.000 e 15.000 mortos, um terço da população da cidade.
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