Pode ser o penúltimo discurso sobre o Estado da União de von der Leyen. Há eleições europeias em junho do próximo ano e a presidente da Comissão Europeia ainda não desfez o 'tabu' sobre querer continuar.
Contudo, vai discursar na quarta-feira em jeito de aproximação à conclusão do mandato. Em pouco mais de uma hora, Ursula von der Leyen vai recuar até 2019 e enaltecer aquilo que fez com a sua equipa de comissários, com uma pandemia pelo meio, e agora, quase ao cair do pano, uma guerra às portas da União Europeia (UE).
Finalizada a retrospetiva do mandato, a presidente da Comissão quer os 27 a olhar para o futuro e quer fazê-lo transversalmente. Fonte comunitária revelou que no discurso vai haver um enfoque na legislação sobre a IA.
A Comissão tem feito desta iniciativa legislativa um bandeira da UE, ao querer criar a primeira legislação completa e que contempla as várias utilizações da IA e como é que podem ser integradas na vida dos cidadãos sem os prejudicar.
Ursula von der Leyen vai pedir um esforço para finalizar esta iniciativa, mas também vai alertar que é necessária uma abordagem global à IA, uma mensagem que já deixou na reunião do G20, na semana passada.
A transversalidade significa olhar também para outros conflitos que não o da Ucrânia e von der Leyen vai abordar a deterioração da situação geopolítica na região africana do Sahel, especialmente os golpes militares no Níger e no Gabão, em menos de dois meses.
Há bastante tempo que von der Leyen tem feito pressão para que a UE seja mais do que um bloco político-económico influente no território europeu e olhe para África -- algo com o qual Portugal tem insistido.
A redefinição da estratégia para a China também vai ser abordada, mas a presidente tem insistido nisso nos últimos meses, pelo que é expectável que haja uma referência, sem novidades.
Para o pacto sobre as migrações há capítulo dedicado e von der Leyen vai pedir mais um esforço dos eurodeputados e ao Conselho Europeu para o aprovarem, agora que para a Comissão está "nas últimas milhas".
Mas o principal tópico vai ser, incontornavelmente, aquele que a antiga ministra da Defesa alemã mais agarrou como a bandeira da UE: a guerra na Ucrânia.
Von der Leyen vai enunciar tudo aquilo que a UE fez desde 24 de fevereiro de 2022: do apoio para reforçar as capacidades militares da Ucrânia ao apoio político e diplomático com sanções contra a Rússia e à tentativa de cercar politicamente Moscovo - pressionando a retirar as tropas do território ucraniano -- para além do acolhimento de refugiados.
A Ucrânia é a linha do horizonte e nela está também a adesão à UE, mas von der Leyen quer que seja feito com conta, peso e medida.
Vários líderes, como o primeiro-ministro português, António Costa, alertaram nos últimos meses que o alargamento da UE à Ucrânia e a outros países tem de ser feito com reformas da própria União, particularmente ao modelo de financiamento, sob pena de prejudicar países que já são membros, subvertendo o princípio da equidade europeia.
O presidente do Conselho, Charles Michel, quer a discussão feita até 2030, mas a presidente da Comissão não deverá avançar com prazos. Em vez disso, quer o início do diálogo sobre o que é necessário o quanto antes, para mais tarde avançar para o alargamento. Von der Leyen não quererá "politizar o alargamento", preferindo concentrar-se em como concretizá-lo.
Na porção do discurso reservada para as consequências do aumento da inflação e as dificuldades dos jovens, von der Leyen deverá referir o problema da habitação, foco de alarme em várias capitais europeias, incluindo Lisboa.
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