As autoridades peruanas desmantelaram uma rede criminosa que vendia recém-nascidos a famílias e fetos para "oferecer à Pachamama", uma tradição andina onde são feitas oferendas à 'Mãe-Terra' para encontrar uma propriedade, avança o El País.
De acordo com este jornal, a "máfia" atuava numa clínica localizada a poucos metros da Plaza Mayor de Cusco, na rua Tres Cruces de Oro.
A operação contra esta organização criminosa começou no dia 4 de setembro, depois de uma mulher de 45 anos se te dirigido ao Hospital Manco Cápac, no bairro de Santiago, para fazer exames de rotina e dar as vacinas ao alegado filho de 14 dias.
Quando as enfermeiras lhe disseram que era importante que também fosse examinada, Fanny Hurtado Altamirano ficou nervosa.
A mulher acabou por recusar ajuda, deixando um dos obstetras desconfiado. Entretanto, o bebé começou a chorar e o médico disse para lhe dar de mamar. Mas ela não fez. A clínica chamou imediatamente a polícia.
Às autoridades, Fanny alegou que tinha dado à luz em casa, mas não havia sinais de nenhuma gravidez ou parto. Mais tarde, acabou por confessar que o filho não era dela, que apenas estava a ajudar uma família que não tinha meios monetários para sustentar a criança.
Já na esquadra, a falsa mãe acabou por admitir ainda que pagou cerca de 800 euros pelo recém-nascido a Rosa Dores Huayhua Mamani, de 55 anos.
Através das câmaras de videovigilância, a polícia conseguiu perceber que estava também um homem envolvido na venda do bebé: Rúben Mora Cuyuchi, também de 55 anos. O casal acabou detido naquele mesmo dia num centro comercial, assim como Fanny. O trio aguarda agora julgamento em prisão preventiva, tal como a obstetra que fazia os partos.
A partir destas detenções, os investigadores chegaram à clínica onde eram realizados os partos e abortos. No local, encontraram testes de gravidez, ecografias, instrumentos cirúrgicos, pílulas abortivas, fraldas, roupas de bebé, recibos de transferências bancárias e cadernos. O que mais chamou a atenção da polícia foi um altar com incenso e carvão.
Ao verificarem os telemóveis dos detidos, as autoridades encontraram mensagens que ajudaram a traçar o rumo da investigação. Rosa e Rúben venderam pelo menos 20 recém-nascidos, cada um deles por cerca de 1.135 euros.
Os fetos, por sua vez, eram usados por curandeiros para fazer os tais "pagamentos à terra".
O bebé de Fanny está agora sob proteção do Estado. As autoridades ainda não conseguiram localizar a mãe biológica do menino, tal como as restantes mulheres sujeitas a estas práticas.
"Não está descartada a hipótese que mães adolescentes, pessoas vulneráveis ou mulheres que não queriam ser mães possam ter ido a este centro clandestino e sem licença para dar os filhos ou fazer abortos", adiantou a polícia.
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