A migração poderá ser "uma força dissolvente para a União Europeia", afirmou o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, em entrevista ao jornal britânico Guardian.
Embora considere que a Rússia tente inflamar a questão da migração dentro da Europa, Josep Borrell negou que o conflito na Ucrânia esteja a contribuir para a crise, que descreveu como um problema de décadas alimentado por guerras e pela pobreza nos países de partida.
O responsável pelos assuntos externos da UE considerou que o bloco dos 27 fez milagres na guerra, defendendo que pode ser uma força-chave na criação de uma nova ordem mundial na qual os países do sul global tenham maior respeito e poder.
Na entrevista, na qual reflete sobre a forma como a UE foi alterada pela guerra e onde se enquadra nesta nova ordem mundial, Borrell disse que os países europeus foram forçados a acordar de "uma sesta" sobre gastos com defesa, na qual "viveram sob o guarda-chuva" nuclear norte-americano.
Nos últimos dias, a primeira-ministra italiana de extrema-direita, Giorgia Meloni, que chegou ao poder com base numa retórica sobre o aumento da migração, disse que não permitiria que o seu país se tornasse "o campo de refugiados da Europa" depois de mais de 10 mil pessoas terem chegado à ilha de Lampedusa em três dias.
Borrell reconheceu que os nacionalismos estão em ascensão na Europa, considerando que a questão está mais ligada à migração do que a um euroceticismo.
"Na verdade, temia-se que o 'Brexit' fosse uma epidemia, mas não foi. Foi uma vacina. Ninguém quis juntar-se a saída dos britânicos da União Europeia", sublinhou.
Neste momento, "a migração é uma divisão maior para a União Europeia. E poderá ser uma força dissolvente da União Europeia", reiterou.
Apesar de os 27 terem estabelecido uma fronteira externa comum, "até agora não conseguiram chegar a acordo sobre uma política comum de migração", concluiu.
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