"O Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria [CNSP, autores do golpe de Estado de julho] e o governo da República do Níger apelam à comunidade nacional e internacional para que testemunhe as ações pérfidas do secretário-geral da ONU, António Guterres, que visam minar todos os esforços para pôr fim à crise no nosso país", defemde-se num comunicado lido na televisão pública.
De acordo com o comunicado, António Guterres "cometeu um erro no exercício da sua missão ao impedir a plena participação do Níger na 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU".
Para esta Assembleia Geral, o regime militar no poder enviou o seu novo ministro dos Negócios Estrangeiros, Bakary Yaou Sangaré, que era o representante do país na ONU antes do golpe de Estado de 26 de julho.
"Guterres não só se recusou a tomar nota da lista oficial de delegados do Níger (...) como, sobretudo, acedeu ao pedido fantasioso do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Hassoumi Massaoudou de revogar a representação permanente do Níger nas Nações Unidas", lamenta-se na mesma nota.
O Níger "rejeita e denuncia veementemente esta ingerência manifesta de António Guterres nos assuntos internos de um Estado soberano", acrescenta-se no comunicado, denunciando "a cumplicidade da França e de dois chefes de Estado francófonos da África Ocidental", sem os nomear.
O porta-voz de António Guterres rejeitou as acusações do regime militar no Níger.
"Em caso de concorrência de credenciais de um Estado membro, o secretário-geral remete o assunto para o comité de credenciais da Assembleia Geral, que delibera sobre a questão. O secretário-geral não decide", declarou Stéphane Dujarric à agência de notícias France-Presse (AFP).
De acordo com uma fonte diplomática, no caso do Níger, a ONU recebeu dois pedidos diferentes para intervir na Assembleia Geral, um de Bakary Yaou Sangaré e outro do governo deposto.
A questão foi, portanto, remetida para o Comité de Credenciais, que geralmente só se reúne no outono, pelo que nenhum representante do Níger consta da lista de oradores da Assembleia Geral.
Este comité, composto por nove Estados membros, examina situações controversas, mas não toma decisões. Por exemplo, adiou várias vezes as suas decisões sobre a Birmânia e o Afeganistão, ambos ainda representados na ONU pelos embaixadores dos antigos governos.
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