Os especialistas ambientais têm alertado há décadas para o impacto da atividade humana e da poluição no aquecimento da água no planeta e, no Japão, as consequências começam a tornar-se cada vez mais irreversíveis, com a população nativa de ursos a encolher drasticamente devido à crise climática.
O mais recente relatório das autoridades japonesas na península de Shiretoko, na região de Hokkaido, dá conta que oito em cada dez crias de urso pardo morreram devido à escassez de alimentos - mais especificamente de salmão, cuja população caiu a pique e deixou de se aventurar com tanta frequência pelos rios.
Segundo explica o relatório, citado pelo The Guardian, os cerca de 500 ursos da região dependem do salmão para a sua dieta e para obterem gordura suficiente para aguentar o inverno. No entanto, o aumento da temperatura da água do mar tem feito com que os salmões, que se dirigiam para os riachos entre agosto e outubro para deixar os seus ovos, fiquem pelo mar, o que por sua vez tem obrigado os ursos a tentar nadar para zonas mais abertas e arriscadas.
"Alguns ursos tornaram-se muito magros. Estão a passar por um período difícil porque não há peixe nos rios, tal como no ano passado", contou um operador turístico de barcos recreativos na região ao órgão japonês Asahi Shimbun. Têm sido vários os relatos de ursos muito magros a virar rochas junto à costa do mar, em busca de alimentos para matar a fome.
"Cerca de 70% a 80% de todas as crias este ano morreram. Isto é uma situação extremamente preocupante", alertou Masami Yamanaka, cientista na Fundação da Natureza de Shiretoko, preocupada com a queda na importantíssima biodiversidade na região.
Os investigadores da universidade de Hokkaido avisaram que a temperatura média da água do mar na ilha de Hokkaido, situado a norte do território principal do arquipélago do Japão, pode aumentar 10 graus Celsius em 2090, comparativamente com os valores registados na década de 1980. Já a associação de propagação de salmão de Hokkaido apontou que os pescadores japoneses capturaram mais de 480 mil salmões rosa entre julho e setembro de 2020, mas o valor caiu para apenas 23 mil no último ano.
Há ainda a considerar também uma escassez de bolotas, também por causa da crise climática, o que deixou humanos e ursos mais em risco devido a possíveis 'excursões' dos animais por zonas habitadas em busca de comida.
Entre janeiro e abril de 2022, foram apanhados e mortos em Hokkaido 1.056 ursos pardos, um recorde para a região. Desses, 999 ursos foram abatidos por serem considerados um risco para as populações e para as colheitas.
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