Nagorno-Karabakh. ONU envia 1.ª missão humanitária dos últimos 30 anos

A ONU vai enviar este fim de semana uma missão ao Nagorno-Karabakh centrada nas necessidades humanitárias, confirmou hoje o porta-voz, Stéphane Dujarric, precisando que a organização não tem acesso a este território "desde há 30 anos".

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Lusa
29/09/2023 22:47 ‧ 29/09/2023 por Lusa

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Nagorno-Karabakh

"O Governo do Azerbaijão e a ONU chegaram a acordo sobre uma missão na região. A missão vai decorrer neste fim de semana" e na sequência "de um convite e com o apoio completo do Governo do Azerbaijão", declarou.

"Não temos acesso a esta região desde há cerca de 30 anos", devido à "complicada situação geopolítica", e "é muito importante que possamos entrar", acrescentou o porta-voz do secretário-geral da ONU.

A equipa de uma dezena de pessoas, conduzida por responsáveis do gabinete de Assuntos humanitários da ONU (OCHA), "vai procurar avaliar a situação no terreno e identificar as necessidades humanitárias para as pessoas que permanecem e também para as que se deslocam".

"É necessário recordar a necessidade para todos do respeito do direito internacional, em particular relacionado com os direitos humanos", acrescentou, para assinalar que "nesta missão inicial", que se vai concentrar nas questões "humanitárias e de proteção" não participará qualquer representante do Alto comissariado para os direitos humanos.

A União Europeia tinha antes sugerido o envio ao Nagorno-Karabakh de uma missão das Nações Unidas devido ao "êxodo massivo" de arménio que fogem deste enclave na sequência da operação militar do Azerbaijão.

Stéphane Dujarric também assinalou que a ONU trabalha com o Governo arménio para enfrentar este afluxo de refugiados que atravessam a fronteira.

"As equipas do Alto comissariado para os refugiados e estão no terreno na fronteira e desde o primeiro dia, quando o primeiro grupo de refugiados chegou esgotado, temeroso e inquieto do seu futuro", notou.

O ACNUR fornece designadamente uma ajuda em termos de equipamentos técnicos (incluindo computadores e tablets) para permitir o registo dos refugiados.

O Azerbaijão desencadeou em 19 de setembro uma operação militar de 24 horas no território azeri de população maioritariamente arménia, que os separatistas disserem ter causado duas centenas de mortos e mais de quatro centenas de feridos.

Um dia depois, as autoridades de Nagorno-Karabakh concordaram com as exigências militares azeris. O cessar-fogo foi mediado pela força de manutenção da paz que a Rússia enviou para o Nagorno-Karabakh desde a guerra de 2020, quando o Azerbaijão recuperou parte do território que tinha perdido anteriormente para os separatistas arménios.

O Governo da Arménia calcula que mais de 88 mil deslocados, entre os cerca de 120.000 habitantes do território, já chegaram ao país em fuga do enclave, cerca de dois terços da população.

O Nagorno-Karabakh, com maioria de população arménia cristã ortodoxa, declarou a independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra no início da década de 1990 que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.

Na sequência deste conflito, foi assinado um cessar-fogo em 1994 e aceite a mediação do Grupo de Minsk (Rússia, França e Estados Unidos), constituído no seio da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), mas as escaramuças armadas continuaram a ser frequentes, e implicaram graves confrontos em 2018.

Cerca de dois anos depois, no outono de 2020, a Arménia e o Azerbaijão enfrentaram-se durante seis semanas pelo controlo do enclave durante uma nova guerra e com pesada derrota arménia, que perdeu uma parte importante dos territórios que controlava há três décadas.

Após a assinatura de um acordo sob mediação russa, o Azerbaijão, apoiado militarmente pela Turquia, registou importantes ganhos territoriais e Moscovo enviou uma força de paz de 2.000 soldados para a região do Nagorno-Karabakh.

Apesar do tímido desanuviamento diplomático, os incidentes armados permaneceram frequentes na zona ou ao longo da fronteira oficial entre os dois países, culminando nos graves incidentes fronteiriços de setembro.

Em 10 de janeiro passado, e numa atitude inédita, a Arménia anunciou que iria recusar receber este ano as manobras militares conjuntas no quadro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC, uma aliança militar liderada pela Rússia e que junta seis repúblicas ex-soviéticas), devido à insatisfação pelo bloqueio do corredor de Lachin.

Num aparente afastamento face ao seu poderoso aliado russo, o Governo de Erevan também admitiu o envolvimento ocidental (EUA e União Europeia) no processo negocial e promoveu recentemente manobras militares conjuntas com uma pequena força norte-americana.

Leia Também: Governo do Azerbaijão convida missão da ONU a visitar Nagorno-Karabakh

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