"Dois atos carregados de significado histórico no processo de retoma da economia e da promoção do desenvolvimento nacional", afirmou o chefe de Estado, esta manhã, durante a inauguração das obras de reabilitação do porto de Mocímboa da Praia.
"Este é um sinal inequívoco no restabelecimento progressivo da normalidade e, no caso concreto, com um impulso sobre a mobilidade de pessoas e bens que favorece a atividade económica de diversos setores", sublinhou.
Na noite de 04 de agosto 2020, os grupos armados que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado desde 2017 invadiram Mocímboa da Praia, tomando as infraestruturas do aeródromo e do porto, tendo os confrontos com as Forças de Defesa e Segurança deixado um número desconhecido de mortos, incluindo elementos da força marítima, além de várias infraestruturas destruídas.
"O dia de hoje representa um marco que simboliza a consolidação, primeiro da unidade nacional, a nossa vontade inabalável de defender a nossa soberania, os nossos valores históricos e culturais, a nossa identidade, considerando o facto de que Moçambique é um Estado unitário e indivisível", disse Filipe Nyusi.
"Não é com ação de armas letais, com a decapitação de crianças, mulheres, jovens e velhos indefesos ou com a destruição de infraestruturas socioeconómicas que qualquer grupo de pessoas irá impor doutrinas alheias à nossa consciência social. A consciência e a vontade dos moçambicanos foram forjadas e enraizadas em valores profundos da convivência pacífica entre nós, sem distinção de etnias ou crenças religiosas", acrescentou o chefe de Estado.
O Presidente referiu ainda que "não há histórico em Moçambique onde uma mesquita se bateu com uma igreja, de qualquer que seja, que tipo de igreja ou grupo". "Por isso que não nos imponham aquilo que gostariam que acontecesse nos seus países", pediu.
As obras de reabilitação destas infraestruturas começaram após a estabilização da situação de segurança, com chegada das forças estrangeiras em julho de 2021, nomeadamente do Ruanda e a da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
No porto de Mocímboa da Praia, pelo menos 7 milhões de dólares (6,6 milhões de euros) foram investidos no novo cais de atracação e na conclusão do sistema de sinalização do canal, mas a reabilitação, que vai continuar, tem orçamento total de 30 milhões de dólares (28,4 milhões de euros), enquanto a reabilitação do aeródromo está orçada em cerca 15 milhões de meticais (222,1 mil euros).
Após meses nas "mãos" de rebeldes, Mocímboa da Praia foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais. No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito que começou há seis anos, com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
"A acalmia que vivemos atualmente deverá ser definitivamente transformada em paz sustentável, pelo que o Governo continuará a se empenhar na implementação do Plano de Recuperação de Cabo Delgado", afirmou o chefe de Estado.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Segundo o chefe de Estado, o plano de recuperação de Cabo Delgado assenta, desde logo, no apoio humanitário e criação de condições básicas para a receção das famílias que regressam aos locais de origem: "Encontraram tudo destruído, destruído, desfeito. Estão a retomar a vida".
Consolidar as linhas de defesa é outra prioridade: "Não nos podemos demitir de proteger a população porque a situação é relativamente calma. E faremos isso através da presença física, prevenindo ataques esporádicos e atacando o inimigo com vista a quebrar a sua espinha dorsal".
O apoio à economia é o terceiro vetor deste plano e o quarto vetor envolve "a reconstrução de infraestruturas", incluindo a reparação de sistemas de abastecimento de água, de energia e comunicações, e de diversos troços de estradas, pistas de aterragem e portos.
"Tendo por base o estabelecimento das condições de mobilidade resta aproveitar o potencial para o comércio florescer, o que deverá ocorrer com novos investimentos e negócios, incluindo a conectividade com a vizinha República Unida da Tanzânia, no âmbito das trocas comerciais nos dois sentidos", destacou Filipe Nyusi, assumindo que as polícias dos dois países estão a trabalhar para reabrir a fronteira comum, encerrada após os ataques.
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