Coesão ocidental abalada com aperto de mão Orban-Putin, diz Bruxelas
O encontro entre o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e o presidente russo, Vladimir Putin, alarmou os líderes da União Europeia (EU) e motivou até uma reunião de emergência, pelas implicações para a coesão do bloco e da própria NATO.
© Lusa
Mundo Tensão
Questionada sobre o mal-estar criado entre os Estados-membros pelo encontro entre Putin e Orbán - com ostensivo aperto de mão e troca de elogios mútuos - fonte diplomática de Bruxelas respondeu que os 27 são livres de se encontrarem com quem quiserem, mas não deixou avisos.
Putin, frisou a mesma fonte, tem um mandado de detenção internacional e a posição da UE é a de apoiar inequivocamente a Ucrânia, o que não muda sob quaisquer circunstâncias.
As reações negativas ao encontro de Orbán e Putin em Pequim na última terça-feira vieram sobretudo dos países de leste e do Báltico, aqueles que mais têm defendido a Ucrânia desde a invasão russa em fevereiro de 2022.
Antigo general ao serviço da NATO e hoje Presidente da República Checa, Petr Pavel alertou Orbán de que Putin "não se encontra com líderes europeus com o objetivo de alcançar a paz na Ucrânia".
"A paz pode ser alcançada sem quaisquer negociações da sua parte e, simplesmente, com um cessar-fogo e a retirada das suas tropas do território ucraniano", completou, advertindo Orbán que encontros como este apenas contribuem para "despedaçar a unidade dos países europeus e de todo o mundo democrático".
"Não devemos cair nas suas táticas", avisou numa declaração ao diário britânico The Guardian.
Também a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, frisou que o aperto de mãos entre Orbán e Putin desafia a lógica e foi desagradável.
Na Hungria, a embaixadora da Alemanha, Júlia Gross, escreveu na rede social X (antigo Twitter) que acreditava que Orbán apenas se encontrou com Putin para discutir o fim das hostilidades na Ucrânia: "Certo?".
O encontro, em Pequim e à margem de uma cimeira sobre a iniciativa estratégica chinesa Nova Rota da Seda, foi o primeiro entre Putin e um líder europeu desde 24 de fevereiro de 2022, dia em que o Kremlin iniciou uma invasão em larga escala à Ucrânia.
O próprio Putin veio defender o líder conservador húngaro de acusações de ser "pró-Rússia" por regularmente se opor ao apoio à Ucrânia prestado pela União Europeia.
"Trata-se de um disparate, pois [Orbán] não tem sentimentos pró-Rússia. Ele não é um político pró-Rússia, é um político pró-Hungria. Atacam-no, principalmente, devido à posição que assume, porventura, diferente da de outros líderes (...), mas porque tem a coragem de defender os interesses do seu povo, coragem que muitas figuras políticas na Europa de hoje não têm, não têm. Têm inveja e atacam-no", sublinhou Putin.
O líder russo viajou para a China apesar do mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra este, pela deportação ilegal de crianças ucranianas.
O embaixador dos Estados Unidos em Budapeste, David Pressman, referiu que o primeiro-ministro húngaro optou "por estar ao lado de um homem cujas tropas são responsáveis por crimes contra a humanidade" na Ucrânia: "Enquanto a Rússia bombardeia civis ucranianos, a Hungria suplica por acordos comerciais [com Moscovo]".
E de acordo uma notícia avançada na quinta-feira pela Radio Free Europe (um órgão de comunicação social financiado pelo Governo norte-americano) houve uma reunião de emergência entre os embaixadores dos países da NATO para a Hungria para discutir o encontro Orbán/Putin.
Os embaixadores terão expressado "preocupações de segurança" com o aprofundamento das relações entre Budapeste e Moscovo.
Orbán e o seu Governo são considerados o 'aliado mais afastado'. A Hungria mantém em 'banho-maria' a ratificação no seu parlamento do acordo de adesão da Suécia à NATO e nem os esforços do secretário-geral e de outros países conseguiram desbloquear a situação.
A Turquia também não o fez ainda, apesar da promessa feita pelo Presidente, Recep Tayyip Erdogan na cimeira de julho da Aliança Atlântica.
E desde o início da invasão russa à Ucrânia que Orbán é a voz insistente que coloca em causa o apoio político, económico-financeiro, humanitário e militar que a UE está a dar a Kyiv.
Na terça-feira advogou também pelo fim das sanções à Rússia, que a UE e os Estados Unidos estão a utilizar como maneira de pressionar a economia russa e coartar as pretensões militares do Kremlin.
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