O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, "falou realmente em nome do mundo quando fez uma avaliação muito precisa e muito equilibrada do que se passa no Médio Oriente", disse hoje a presidente do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, que se encontra em Lisboa para contactos com partidos e o Governo português.
"Foi com um suspiro de alívio que ouvimos [as declarações de Guterres] porque finalmente o que precisava de ser dito foi dito e nós apoiamo-lo totalmente, inequivocamente, na sua afirmação e, francamente, no desempenho da sua função", afirmou a responsável do Sinn Féin (esquerda), único partido ativo em simultâneo na Irlanda e na Irlanda do Norte.
A posição do secretário-geral da ONU sobre o conflito -- em que condenou o ataque do grupo islamita Hamas, ocorrido em 07 de outubro, enquanto salientou que este "não veio do nada" -- foi recebida com indignação por Israel, que pediu a demissão de António Guterres e suspendeu os vistos para trabalhadores das Nações Unidas no país.
"Sabemos que há gerações que o povo palestiniano vê negado o seu direito à autodeterminação. Foi despojado. Suportaram a anexação das suas terras, o castigo coletivo e, francamente, suportaram coisas que consideraríamos inimagináveis no nosso próprio país. E penso que, durante muito tempo, não se pediu a Israel que aceitasse as suas próprias violações do direito internacional", considerou hoje Mary Lou McDonald, em declarações à imprensa internacional.
A presidente do Sinn Féin condenou o "horrível" ataque do Hamas -- considerado terrorista pela União Europeia, EUA e Israel -, que constituiu uma "violação do direito internacional", enquanto sustentou que "não há justificação para o bombardeamento contínuo de Gaza" por Telavive.
"Não se trata de ações defensivas, são ações ofensivas. E, a menos que a comunidade internacional siga agora o exemplo das Nações Unidas e do seu líder, estamos a criar mais um ciclo previsível e destrutivo de violência e sofrimento", sustentou.
Para o Sinn Féin, "não há resposta militar para este conflito, só há diplomacia, só há política e só há paz".
A responsável defendeu a necessidade imediata de travar os bombardeamentos.
"Chegou o momento de todos, pessoas de boa vontade a nível mundial, dizerem a uma só voz: 'Parem, parem agora, não [basta] uma pausa humanitária para que a ajuda chegue a Gaza e o massacre não possa recomeçar'", sublinhou.
Para Mary Lou McDonald, depois de pararem os combates, "a comunidade internacional e as partes envolvidas, o lado palestiniano e o lado israelita, precisam de formar um quadro diplomático viável e robusto" e trabalhar tendo como único princípio "o respeito e a aplicação do Direito internacional".
A política irlandesa criticou ainda a posição da União Europeia sobre o conflito.
"Penso que muitos europeus ficaram muito desanimados com a forma como a Comissão Europeia e a liderança do Parlamento Europeu foram vistas como partidárias e como estando a dar carta branca a Israel. Não é esse o caminho a seguir", lamentou, numa alusão à deslocação da presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, a Israel dias depois do ataque do Hamas, durante a qual não pediu às autoridades israelitas que respeitem o Direito internacional, motivando críticas.
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