"O Reino da Arábia Saudita saúda o retomar das negociações entre representantes das Forças Armadas Sudanesas e das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) na cidade de Jeddah", lê-se num comunicado do ministério.
Desde abril, a guerra entre as forças do chefe do exército, Abdel Fattah al-Burhane, e o seu antigo vice, Mohamed Hamdane Daglo, à frente das forças paramiliates RSF, já causou a morte de mais de 9.000 pessoas, de acordo com números da ONU que admite ser muito subestimado, e mais de 5,6 milhões de deslocados e refugiados.
As duas partes tinham anunciado esta quarta-feira que tinham aceitaram o convite para retomar as negociações, em Jeddah (oeste), sob a égide dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.
As tentativas anteriores de mediação resultaram em tréguas que rapidamente se desfizeram.
Representantes dos países da Igad, o bloco da África Oriental composto pelo Quénia, Djibuti, Etiópia e Sudão do Sul, estão a participar nas conversações, em nome da União Africana, adianta o comunicado de imprensa saudita de hoje.
O ministério saudita apelou aos negociadores para respeitarem um acordo anterior, anunciado a 11 de maio, para proteger os civis, e um acordo de cessar-fogo, assinado em 20 de maio.
Riade instou também as partes em conflito a "acabar com o derramamento de sangue e a aliviar o sofrimento do povo sudanês"e disse esperar um acordo político que garanta a "segurança, estabilidade e prosperidade do Sudão e do seu povo irmão".
Antes da suspensão da última ronda de negociações, em junho, os mediadores estavam cada vez mais frustrados com a relutância de ambas as partes em trabalhar no sentido de uma paz duradoura.
Segundo os especialistas, o general Burhane e o seu rival Daglo pareciam ter optado por uma guerra de desgaste, com a esperança de obter mais tarde maiores concessões na mesa de negociações.
Mas Washington aumentou os contactos para garantir que as conversações seriam retomadas e o seu chefe da diplomacia, Antony Blinken, finalizou os termos durante uma viagem na semana passada à Arábia Saudita, segundo um responsável norte-americano.
As negociações visam garantir um cessar-fogo, mas é prematuro discutir uma solução política duradoura, disseram autoridades dos EUA.
A nova ronda de negociações centrar-se-á num "cessar-fogo, no acesso irrestrito da ajuda humanitária" ao Sudão e em "outras medidas de criação de confiança", segundo um destes responsáveis.
Alan Boswell, diretor de projeto para a região do Corno de África do International Crisis Group, disse que a retomada das negociações "demorou muito".
"Devemos agora duplicar os esforços diplomáticos na região se quisermos que o cessar-fogo seja seriamente considerado", afirmou à agência de notícias francesa AFP, temendo que não seja alcançada uma solução para as questões humanitárias.
Kholood Khair, fundadora do grupo de reflexão Confluence Advisory, com sede em Cartum, disse que o retomar das conversações baseou-se no pressuposto de que o exército e os paramilitares "decidiram terminar os combates, devido ao colapso iminente do Estado, ao sofrimento e à miséria", segundo escreveu no X (antigo Twitter).
No entanto, "este ainda não é o caso. Apesar da retórica [do exército] e da RSF, nenhum deles se preocupa com o custo humano desta guerra", acrescentou.
Hoje, antes do recomeço das negociações, testemunhas relataram combates em El Fasher, capital do Darfur do Norte, e a RSF anunciou que tinha assumido o "controlo total" das posições do exército em Nyala, capital do Darfur do Sul e segunda cidade mais populosa do Sudão.
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