Protestos em Moçambique? "Fraude eleitoral que castigou a democracia"

A socióloga Sheila Khan considerou hoje, em declarações à Lusa, que as manifestações em Moçambique resultam de uma "fraude eleitoral que castigou a democracia", mas antevê que os protestos, ainda que legítimos, não vão estilhaçar o Governo.

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Lusa
28/10/2023 10:28 ‧ 28/10/2023 por Lusa

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Moçambique

"Fomos testemunhando as várias manifestações que resultam de umas eleições que sabemos que foram fraudulentas e que castigaram enormemente a democracia", disse Sheila Khan à Lusa, no seguimento dos protestos que sucederam um pouco por todo o país na sequência do anúncio dos resultados eleitorais que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em 64 das 65 autarquias do país.

"Os resultados não são reais, há uma enorme hipocrisia política por parte da Frelimo, que deixa a democracia moçambicana castigada e manca", acrescentou a escritora moçambicana que é também professora na Universidade do Minho.

Para Sheila Khan, talvez o único ponto positivo da contestação que surgiu a seguir às eleições de 11 de outubro foi a união da oposição em torno da crítica ao processo eleitoral.

"Temos visto uma oposição muito musculada, extremamente vigilante e atenta ao que se passou no período pós-eleições; havia quem dissesse que não tínhamos uma verdadeira oposição, que pudesse fazer frente à Frelimo, mas o que vimos é uma oposição interveniente, que fez, ela própria, contagens eleitorais paralelas destes resultados eleitorais", acrescentou.

Questionada sobre como serão os próximos dias e semanas, Sheila Khan disse estar pessimista face à contínua capacidade de mobilização da oposição, apesar do impacto de iniciativas como a carta aberta assinada por Samora Machel Junior.

"Sendo membro do comité central da Frelimo, disse que houve um ato hediondo e um castigo, um rasurar dos pilares da democracia, e é uma pessoa que está dentro da direção do partido no poder; ele quebra, estilhaça a coesão e o silêncio de uma Frelimo que se coloca num pedestal da história moçambicana e que tem esquecido o que é a cidadania, a partilha e a distribuição do poder", criticou a socióloga, considerando que, para a Frelimo, "não há qualquer pudor em ganhar de forma fraudulenta, o que interessa é manter o poder".

Para o futuro, concluiu, não haverá um enfraquecimento da Frelimo nem uma recontagem de votos: "O resultado prático é a pressão, a manifestação da cidadania e será uma contestação acérrima, mas se vai provocar algum tipo de enfraquecimento ou um estilhaçar da Frelimo, não acredito", disse Sheila Khan.

Os resultados apresentados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Moçambique indicam uma vitória da Frelimo, em 64 das 65 autarquias do país, enquanto o MDM, terceiro maior partido, ganhou apenas na Beira.

As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país no dia 11 de outubro, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos.

Na sexta-feira, dia a seguir ao anúncio dos resultados das eleições pela CNE, pelo menos 10 pessoas ficaram feridas e outras 70 foram detidas durante marchas de protesto contra os resultados das sextas eleições autárquicas em diversos pontos de Moçambique, segundo a polícia.

Partidos da oposição, sobretudo a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, têm promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada "megafraude" no escrutínio.

De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial eleitoral do país.

Leia Também: HRW acusa polícia de disparar contra protestos e matar em Moçambique

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