"Os aliados e parceiros dos EUA na região estão a enviar sinais de exigência silenciosos, mas claros, que querem ver estabilizadas as relações" com Pequim, afirmou Jude Blanchette, presidente do Departamento para Estudos da China no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de reflexão ('think tank') com sede em Washington, à Lusa.
Apesar de partilharem as "preocupações" dos EUA em relação à China, os países da região querem ver as relações estabilizadas, observou.
"Os efeitos da competição entre grandes potências afetam todos, desde o Japão ou Indonésia às Filipinas ou Singapura", realçou.
A China é o maior parceiro comercial da maioria dos países da Ásia-Pacífico, que, ao mesmo tempo, consideram a parceria com Washington fundamental para conter as ambições chinesas.
Estimativas apontam que, no conjunto, os 21 países que participam no fórum de Cooperação Económica Ásia - Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que se realiza esta semana em São Francisco, vão crescer 3,3%, este ano.
No entanto, as projeções para os três anos seguintes revelam um atraso em relação a outras economias mundiais.
"Há sinais promissores, mas a APEC está a caminhar na corda bamba entre diferentes riscos", observou Carlos Kuriyama, diretor do Departamento de Investigação da APEC, com sede em Singapura, num relatório.
Embora o analista tenha identificado alguns pontos positivos para os países da região, incluindo o turismo ou consumo interno, estes estão a ser ofuscados por outros fatores, como a inflação, aumento da dívida, alterações climáticas, protecionismo comercial e a rivalidade entre EUA e China, afirmou.
"Uma relação estável entre EUA e China é vantajoso para todos", frisou. "São as duas maiores economias do mundo. Faz todo o sentido que trabalhem juntas", disse.
A relação entre Washington e Pequim deteriorou-se nos últimos anos, com várias disputas simultâneas entre as duas maiores economias do mundo, incluindo uma prolongada guerra comercial e tecnológica e diferendos em questões envolvendo os Direitos Humanos, o estatuto de Taiwan e Hong Kong ou a soberania do Mar do Sul da China.
Os líderes dos EUA e China, Joe Biden e Xi Jinping, vão reunir na quarta-feira, à margem da cimeira da APEC.
"As expectativas são baixas", reconheceu Jude Blanchette. "O ambiente continua muito pesado", notou.
No Mar do Sul da China, que Pequim reclama quase na totalidade e onde o Exército norte-americano conduz regularmente operações denominadas "liberdade de navegação", despiques entre aeronaves militares e navios de guerra dos dois países são cada vez mais frequentes.
Outros pontos de fricção incluem Taiwan e as restrições impostas pelos Estados Unidos sobre o fornecimento de 'chips' semicondutores a empresas chinesas. Aqueles componentes são essenciais para a produção de veículos elétricos ou sistemas de inteligência artificial e têm aplicação militar.
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