Ex-jornalista da Fox News diz ter sido despedido por expor mentiras
Jason Donner processou a polémica cadeia televisiva, alegando que foi levada a cabo uma "purga" a jornalistas que contestassem as mentiras promovidas por Donald Trump sobre alegada fraude eleitoral em 2020.
© Jakub Porzycki/NurPhoto via Getty Images
Mundo Eleições EUA
Um antigo jornalista da Fox News, o órgão norte-americano conhecido por defender a direita ultraconservadora nos Estados Unidos, processou a televisão para a qual trabalhava por considerar que foi despedido após expor em direto mentiras promovidas por Donald Trump, sobre alegada fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 2020.
Jason Donner, que cobria as atividades políticas no Capitólio, explicou que a emissora procurou agradar à base eleitoral de Donald Trump - cujos eleitores são o público-alvo da Fox News e a sua maioria de espetadores -, ao promover o antigo presidente e evitar qualquer tipo de reportagem e cobertura que desmentissem alegações falsas.
"Para recuperar audiência e prometer a sua lealdade ao presidente Trump, a liderança corporativa da Fox purgou a divisão de notícias e aqueles repórteres que denunciaram as alegações de fraude eleitoral", disse Donner, no processo que foi apresentado no dia 27 de setembro e que foi avançado na segunda-feira pelo site Daily Beast.
Donner processou a empresa por despedimento sem justa causa e discriminação, pedindo não só uma indemnização, mas também que Fox News se comprometa de forma oficial e contratual a não descriminar contra funcionários pelas suas opiniões políticas diferentes da visão da empresa.
O jornalista referiu ainda que a Fox "capitulou imediatamente a Trump" depois do repórter denunciar as mentiras, sendo que, além de Jason Donner, outros 20 jornalistas terão sido afastados pelos mesmos motivos. No dia 19 de novembro de 2020, pouco depois de ter sido confirmada a vitória de Joe Biden, Donner diz que foi "repreendido" pelas suas "opiniões", após ter explicado no Twitter (agora X) que uma teoria de um antigo advogado de Trump sobre fraude eleitoral em Filadélfia "não era um caso de fraude".
No dia 6 de janeiro de 2021, quando o Congresso foi invadido por apoiantes extremistas de Donald Trump, o repórter estava no interior e disse em direto que o edifício do Capitólio estava a ser "atacado". No estúdio, contudo, a emissora continuou a promover os apoiantes como "pacíficos" e "incompreendidos". Donner relevou na queixa que, nessa altura, ligou para a 'régie' que controlava a emissão para avisar a produção que mentir daquela forma sobre o incidente ia "acabar por matar" os jornalistas.
Uns meses depois, o principal apresentador e estrela maior da televisão, Tucker Carlson (entretanto afastado), publicou uma peça em que alegava que a invasão foi planeada por críticos de Trump - o que nunca aconteceu, tanto que a investigação em torno do ataque já levou à condenação de 700 apoiantes extremistas do antigo presidente. Jason Donner começou a preparar uma reportagem a desmentir todas as alegações emitidas pela sua própria empresa.
Fox News host Tucker Carlson aired newly released video from the Jan. 6 attack on the U.S. Capitol, using footage provided exclusively to him by Speaker Kevin McCarthy.
— TODAY (@TODAYshow) March 7, 2023
Carlson attempted to downplay the riot, falsely portraying it as a peaceful gathering. pic.twitter.com/knMR77DGMd
A situação prolongou-se durante vários meses, com Donner a denunciar o "ambiente tóxico" promovido pelo programa altamente controverso, ultraconservador, ortodoxo e transfóbico de Tucker Carlson, por outros apresentadores e pela direção editorial. Após ter faltado um dia por se encontrar doente após tomar a vacina contra a Covid-19, o jornalista terá sido repreendido pela sua ética de trabalho e foi despedido no dia seguinte, em setembro de 2022.
Na cobertura eleitoral de 2020, a Fox News foi a primeira estação televisiva a avançar que Joe Biden tinha conquistado o estado do Arizona, uma região tradicionalmente republicana e um resultado que se revelou crucial para a vitória do então candidato pelo Partido Democrata.
No entanto, logo a seguir, Donald Trump queixou-se da televisão que lhe foi sempre leal ao longo das anteriores eleições e do seu mandato na Casa Branca, e que o defendeu de todo o tipo de polémicas (desde pessoais a profissionais, desde acusações de assédio sexual a processos de exoneração).
Em investigações na justiça sobre o papel da Fox News na difusão de mentiras sobre as eleições de 2020, nomeadamente com teorias de conspiração sobre o sistema de voto eletrónico Dominion, foram divulgadas mensagens entre os altos quadros da empresa em que o vice-CEO admitiu que o rescaldo da vitória de Biden no Arizona "foi prejudicial, mas as nossas estrelas e programas deixaram que os espetadores soubessem que os ouvimos e os respeitamos".
A Fox News acabou por ser condenada a pagar mais de 730 milhões de euros de indemnização pelas mentiras sobre alegada fraude eleitoral difundidas ao longo de todo o processo eleitoral.
Antes, durante e depois das eleições de 2020, Trump alegou repetidamente que o sufrágio tinha sido roubado a favor de Joe Biden, que acabou por ganhar. Todas as entidades oficiais e independentes concluíram que não houve qualquer indício de fraude eleitoral, e o próprio Donald Trump está a ser investigado em vários processos na justiça sobre o seu papel em promover mentiras sobre a eleição e por ter-se ativamente esforçado para reverter o resultado em alguns estados disputados.
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