Com a proliferação da Inteligência Artificial (IA), que mereceu a atenção do público em 2023, os editores do Dicionário Cambridge decidiram que a palavra do ano é ‘hallucinate’, ou seja, ‘alucinar’ – mas com um novo significado.
“As ferramentas de IA, especialmente aquelas que utilizam grandes modelos de linguagem (LLMs), provaram ser capazes de gerar uma prosa plausível, mas muitas vezes fazem-no utilizando ‘factos’ falsos, enganosos ou inventados. 'Alucinam' de uma maneira confiante e às vezes verossímil”, explicou aquele que é um dos dicionários mais populares em inglês, num comunicado emitido esta quarta-feira.
A entidade não perdeu tempo e, para assinalar o marco, até já atualizou o significado da palavra para ter em conta esta nova perspetiva.
“Quando uma IA (= um sistema de computador que possui algumas das qualidades que o cérebro humano possui, como a capacidade de produzir linguagem de uma forma que parece humana) alucina, produz informações falsas”, lê-se.
De notar que a definição tradicional de ‘alucinar’ contemplava apenas a ideia de “parecer ver, ouvir, sentir ou cheirar algo que não existe, geralmente por causa de um problema de saúde ou devido à toma de uma droga”.
Para o especialista em ética de IA da Universidade de Cambridge Henry Shevlin, “o uso generalizado do termo 'alucinar' para se referir a erros cometidos por sistemas como o ChatGPT fornece um retrato fascinante de como estamos pensar e a antropomorfizar a IA”.
“É claro que informações imprecisas ou enganosas já existem há muito tempo, seja na forma de rumores, propaganda ou de ‘notícias falsas’. Ainda que estes sejam normalmente considerados produtos humanos, 'alucinar' é um verbo evocativo que implica um agente que experimenta uma desconexão da realidade. Esta escolha linguística reflete uma mudança subtil, mas profunda, na perceção: a IA, e não o utilizador, é quem está a ‘alucinar’”, explicou.
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