O segundo e último dia do debate para investidura de Pedro Sánchez terminou como se esperava: com a reeleição do socialista como primeiro-ministro de Espanha aprovada pelo parlamento, com uma maioria absoluta de 179 votos a favor dos 350 deputados espanhóis.
Sem surpresas, Sánchez obteve o 'sim' de 179 deputados de oito partidos, numa 'geringonça' de formações de Esquerda e Direita, regionalistas, nacionalistas e independentistas.
Antes da votação, Sánchez dedicou algumas palavras aos deputados socialistas, face às críticas que surgiram nos últimos dias sobre a lei da amnistia. "Quero dirigir-me aos 121 lugares do PSOE e dos quais tenho a honra de fazer parte. E juntamente com o grupo PSOE quero dirigir-me aos filiados, aos militantes e àqueles que simpatizam com as nossas ideias. Obrigado do fundo do meu coração. Sei que o processo que nos trouxe até hoje não foi fácil e não foi fácil para mim. Obrigado pela confiança", disse, referindo que estes têm "suportado os constantes insultos".
"Saberemos aproveitar este tempo tão duramente conquistado. Não será um tempo de silêncio, mas sim um tempo de diálogo, mudança, prosperidade, justiça social e liberdade. Obrigado a todos. A democracia espanhola reside nesta Câmara, através do diálogo e da participação se expressa a vontade do nosso povo e de cada circunstância. Este é o mecanismo. Este debate terminará com uma votação que decidirá um Governo legítimo, democrático e constitucional", concluiu.
O partido socialista (PSOE) foi a segunda força mais votada nas legislativas de 23 de julho e vai assumir o governo em coligação com o Somar, uma plataforma de formações de esquerda e extrema-esquerda, liderada pela atual ministra do Trabalho, Yolanda Díaz.
O novo governo foi viabilizado por mais seis partidos: Coligação Canária (CC), Bloco Nacionalista Galego (BNG), Juntos pela Catalunha (JxCat), Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), EH Bildu (do País Basco) e Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em espanhol).
Pode recordar o debate e votação na ligação abaixo:
Os acordos que o PSOE assinou com os dois partidos catalães têm estado no centro de polémica e protestos, por incluírem uma amnistia para as pessoas envolvidas no movimento independentista da Catalunha entre 2012 e 2023, que teve como auge uma declaração unilateral de independência em outubro de 2017.
A amnistia é contestada pela direita e por diversas entidades e setores, incluindo associações de juízes e procuradores, que alertaram para a possibilidade de um ataque ao princípio da separação de poderes, à independência da Justiça e ao estado de direito.
Por outro lado, a amnistia tem também sido contestada nas ruas e hoje, durante a votação da investidura de Sánchez, cerca de 150 pessoas (segundo as autoridades de segurança) manifestaram-se no exterior do edifício do Congresso dos Deputados contra Sánchez.
Um grupo de deputados socialistas queixou-se mesmo de insultos nas imediações do parlamento por parte de um grupo de jovens e um dos parlamentares, Herminio Sancho, foi atingido por um ovo na cabeça.
No debate da reeleição de Sánchez, que começou na quarta-feira, o próprio secretário-geral do PSOE e o líder parlamentar dos socialistas, Patxi López, pediram à direita para reconhecer e aceitar o resultado das eleições e medir as expressões que tem usado no discurso público, para "não alimentar o ódio" e manifestações que, em alguns casos, têm sido violentas e marcadas por símbolos e palavras de ordem fascistas e da ditadura espanhola de Francisco Franco.
Os socialistas condenam a utilização de expressões como "fraude eleitoral", "golpe de Estado", "ditadura", "traidor" ou "inimigos de Espanha" quando se referem a Sánchez, ao novo Governo e ao PSOE, que não foi o partido mais votado nas eleições de 23 de julho (foi o PP).
Na quarta-feira, na abertura do debate, Sánchez justificou a amnistia por ser a via para recuperar a convivência entre os espanhóis e também a forma de garantir um governo "de progresso" em Espanha face à ameaça da "direita reacionária".
Numa referência aos deputados eleitos pela Catalunha por todos os partidos, Sánchez defendeu que a amnistia é pedida por 80% dos catalães e apoiada por uma maioria absoluta de representantes dos espanhóis no parlamento.
Sánchez, que rejeitava a possibilidade de uma amnistia par aos independentistas até às eleições, admitiu estar a fazer "da necessidade, virtude", numa referência aos apoios que teve de reunir para continuar a ser primeiro-ministro.
O líder do PSOE acusou o PP de, como noutros países do mundo, se ter deixado parasitar pela extrema-direita e pelo partido Vox e acrescentou que face "às direitas reacionárias e retrógradas", que querem "meter as mulheres na cozinha, as pessoas LGBT nos armários e os migrantes em campos de refugiados", a opção é um novo governo de esquerda apoiado por partidos com "extraordinárias diferenças".
[Notícia atualizada às 13h23]
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