Segundo o Ministério Público, as alegações só chegaram aos procuradores em maio deste ano, quando os advogados da arquidiocese de Paris e de um grupo católico denominado Missões Estrangeiras de Paris (MEP) apresentaram um relatório sobre uma tentativa de violação cometida pelo bispo Georges Colomb em 2013.
O 'site' de investigação jornalística Mediapart assegura, no entanto, que figuras importantes da Igreja Católica conheciam as acusações há anos.
A Conferência Episcopal Francesa sublinhou hoje que o bispo contesta a acusação e merece a presunção de inocência, acrescentando que Colomb pediu ao Vaticano para se afastar das suas funções a fim de poder preparar a sua defesa.
Colomb liderou o MEP entre 2010 e 2016, altura em que se tornou bispo.
De acordo com a imprensa francesa, o homem que o acusou -- cujo nome não foi divulgado - estava hospedado nas instalações do MEP no momento do incidente.
Após a alegada tentativa de violação, o homem terá contado o que tinha acontecido a outro responsável do MEP.
Este responsável, Gilles Reithinger, adiantou, em declarações à rádio pública France-3, que o homem lhe disse que Colomb propôs dar-lhe uma massagem com óleo, o que o deixou desconfortável, mas que não mencionou qualquer irregularidade sexual.
Reithinger, agora bispo de Estrasburgo, assegurou ter colocado a questão ao superior de Colomb na altura, mas não viu qualquer razão para denunciar o incidente aos procuradores de Justiça.
Colomb foi detido para interrogatório na semana passada e os magistrados apresentaram uma acusação preliminar na sexta-feira, como informou o Ministério Público, referindo que o bispo ficou sob supervisão judicial e proibido de entrar em contacto com a vítima ou com testemunhas enquanto decorresse a investigação.
A Conferência dos Bispos expressou, em comunicado, "preocupação pela alegada vítima" e ofereceu apoio a "todos aqueles que estão perturbados ou magoados com esta notícia".
A França está a enfrentar um escândalo de grandes dimensões, com denúncias de abusos encobertos durante décadas por parte de figuras relacionadas com a Igreja.
A Conferência dos Bispos de França aceitou dar indemnizações às vítimas depois da publicação em 2021 de um relatório que estimou que cerca de 330 mil crianças foram abusadas sexualmente ao longo de 70 anos por padres ou outras figuras relacionadas com a Igreja no país.
As estimativas basearam-se numa investigação mais ampla realizada pelo Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica de França sobre o abuso sexual de crianças.
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