"Foi uma grande perda. Era um homem que, concordasse-se com ele ou não, tivesse-se ou não as mesmas opiniões, serviu na Segunda Guerra Mundial, serviu fardado o seu país com valentia e décadas depois", afirmou hoje, em conferência de imprensa o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
Henry Kissinger, figura incontornável da diplomacia mundial durante a Guerra Fria, morreu esta quarta-feira aos 100 anos, na casa onde vivia no estado norte-americano do Connecticut.
"Acho que todos podemos estar agradecidos e enaltecer o seu serviço público", referiu John Kirby.
Heinz Alfred Kissinger, um judeu alemão nascido na Baviera em 1923, fugiu da Alemanha nazi e naturalizou-se norte-americano aos 20 anos.
Filho de um professor, ingressou na contraespionagem militar e no exército dos Estados Unidos, antes de efetuar estudos brilhantes na Universidade de Harvard, em que também lecionou.
Reconhecido pelos óculos de lentes grossas, tornou-se o rosto da diplomacia mundial quando o republicano Richard Nixon o chamou para a Casa Branca em 1969 como Conselheiro de Segurança Nacional e depois como Secretário de Estado.
Sobreviveu à saída de Nixon, que se demitiu em 1974 devido ao escândalo de Watergate, e manteve-se como chefe da diplomacia do seu sucessor Gerald Ford até 1977.
A assinatura de um cessar-fogo valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz com o líder norte-vietnamita em 1973.
Duc Tho recusou o prémio, alegando que as tréguas não tinham sido respeitadas, e Kissinger não se deslocou a Oslo por receio de manifestações.
Kissinger será também recordado pelo apoio dado a ditaduras como as da Argentina, entre 1976 e 1983, aos últimos anos do regime de Francisco Franco, em Espanha, e ao golpe de Estado contra Salvador Allende, no Chile, em 1973.
É, até à data, a única pessoa na história dos Estados Unidos que ocupou simultaneamente os cargos de secretário de Estado e de conselheiro de Segurança Nacional.
Apesar dos elogios de vários líderes mundiais, as críticas também surgiram nas redes sociais logo após o anúncio da sua morte.
A revista Rolling Stone escreveu no título "Henry Kissinger, criminoso de guerra amado pela classe dominante americana, finalmente morre", segundo a agência norte-americana AP.
O académico da Universidade do Estado do Arizona Sophal Ear escreveu no The Conversation que a campanha de bombardeamento de Kissinger "matou centenas de milhares de cambojanos e abriu caminho para a devastação do Khmer Vermelho".
Henry Kissinger manteve-se ativo até ao fim da vida. Em julho, já com 100 anos, visitou a China, onde se encontrou com o Presidente do país, Xi Jinping.
As opiniões do antigo diplomata sobre assuntos da atualidade, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e os riscos da inteligência artificial, também têm sido frequentemente citadas nos meios de comunicação social.
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