"Consideramos importante que se defina nesta COP28 [28.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas] um roteiro em que fiquem estabelecidas as etapas a percorrer, de modo que sejam honrados os compromissos assumidos na COP de Glasgow [em 2021], em que ficou definido o objetivo de se duplicar o financiamento às medidas de adaptação até ao ano de 2025", afirmou hoje João Lourenço, no seu discurso nos Emirados Árabes Unidos, onde decorre o encontro.
O "financiamento climático para o período pós 2025" deve ter em conta "todo um conjunto de fatores que não debilitem e nem fragilizem as economias dos países em vias de desenvolvimento, que não estão capazes de abdicar de um momento para o outro dos recursos naturais fontes de divisas, designadamente o petróleo", afirmou o chefe de Estado de um dos maiores produtores de hidrocarbonetos do mundo.
João Lourenço realçou a "necessidade do cumprimento das reiteradas promessas de contribuições financeiras e acesso aos financiamentos em condições abonatórias para os países menos industrializados, menos desenvolvidos, com destaque para os pequenos Estados insulares", que são também os mais ameaçados.
Por isso, o líder angolano espera que "a crescente sensibilidade dos povos e nações do mundo para as questões que se prendem com o clima" pode levar a que, desta vez, as metas sejam "encaradas com mais empenho e mais determinação".
No entanto, mesmo sem canais de financiamento adequados, "fazem parte das prioridades centrais em todos os programas e estratégias de desenvolvimento sustentável que delineamos na República de Angola, a questão das alterações climáticas", afirmou o governante, que recordou a Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas 2022/2035.
"Realçamos a nossa aposta nas energias renováveis, que representa um dos principais pilares da adaptação às alterações climáticas" e "estamos decididos a alterar a matriz energética nacional, privilegiando as fontes de produção de energias limpas com a construção de aproveitamentos hidroelétricos e de parques fotovoltaicos", uma área que representa mais de 65% da energia produzida no país.
"Com o programa em curso de extensão da rede nacional de transporte de energia das principais fontes de produção localizados na bacia do Baixo Kwanza para as províncias do leste e do sul do país, a nossa ambição para os próximos quatro anos é a de descontinuar a utilização das centrais térmicas que ainda alimentam algumas parcelas do território nacional", explicou João Lourenço.
Por outro lado, o país está "a construir novas e a ampliar antigas barragens hidroelétricas, que têm proporcionado ao país um aumento significativo da sua capacidade de produção de energia e gerado um excedente que pode atender as necessidades dos países da SADC [Comunidades dos Países da África Austral, na sigla inglesa], sobretudo com a conclusão do aproveitamento hidroelétrico de Caculo Cabaça e o início das obras do projeto binacional da barragem hidroelétrica de Baynes sobre o rio Cunene", que junta Angola e a Namíbia.
"Angola tem vindo a ser vítima do fenómeno de seca severa no sul do país, com efeitos devastadores sobre a vida das populações e da vida animal", em particular no sul do país.
"Em virtude das consequências das alterações climáticas, Angola teve que procurar soluções endógenas urgentes para salvar populações inteiras dos efeitos da seca", disse, destacando a construção de um canal de 165 quilómetros de extensão e várias albufeiras de retenção na região do Cafu, na província do Cunene, uma infraestrutura que resolveu o problema e ajudou a criar condições para o desenvolvimento da agricultura familiar, exemplificou.
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