No meio de uma guerra devastadora, que não dá tréguas desde abril de 2023, o conselho "expressou a sua profunda preocupação e condenou veementemente os recentes desenvolvimentos no Sudão, em particular o anúncio das RSF e suas forças políticas e sociais afiliadas sobre o estabelecimento de um governo paralelo na República do Sudão, e advertiu que tal ação acarreta um enorme risco de divisão do país", disse o órgão com sede em Addis Abeba na quarta-feira, num comunicado após realizar uma reunião virtual na terça-feira.
A UA emitiu a nota depois de as RSF e 23 outros grupos políticos e militares terem chegado a um acordo básico em Nairobi, na madrugada de 23 de fevereiro, para formar o governo paralelo, antes de assinarem uma Constituição de transição para o país, em 04 de março.
Numa conferência de imprensa realizada na capital queniana após a assinatura da nova Constituição, os representantes dos grupos envolvidos sublinharam nesse mesmo dia que iriam procurar obter o reconhecimento internacional, embora Hasbelnabi Mahmoud Hasbelnabi, líder do Movimento Democrático de Libertação do Sudão (SDLM), tenha assegurado à agência de notícias EFE, na altura, que esses contactos ainda não tinham sido efetuados.
A este respeito, o CPS "exortou todos os Estados-membros da UA e a comunidade internacional a não reconhecerem qualquer governo paralelo ou entidade que procure dividir e governar qualquer parte do território da República do Sudão ou das suas instituições" e a não os apoiarem.
O conselho "reafirmou o seu compromisso com a preservação da soberania, unidade e integridade territorial da República do Sudão, bem como com a resolução pacífica do atual e devastador conflito".
As RSF e os seus aliados pretendem que o novo governo paralelo tenha a sua sede na capital sudanesa, Cartum, e não nas regiões do Darfur (oeste) ou do Cordofão (centro), como se especulava, uma vez que são estes os territórios sob controlo paramilitar.
A proposta de Constituição prevê igualmente que o exército seja controlado pelos rebeldes e que se torne uma instituição "pluralista" para integrar todos os grupos étnicos do Sudão, entre outras medidas.
Além das RSF, lideradas por Mohamed Hamdan Dagalo (também conhecido por Hemedti), e do SDLM, são signatários do pacto o Partido Nacional Umma, o Movimento de Libertação do Norte do Sudão, o Movimento Sudanês para a Justiça e a Igualdade e a Aliança da Frente Revolucionária, entre outros.
A assinatura da nova Constituição teve lugar numa altura em que as RSF têm vindo a perder território para o exército, especialmente nos estados de Cartum, Al Jazira, Nilo Branco e Cordofão do Norte, adjacentes à região de Darfur, onde os paramilitares mantêm o controlo da maior parte da área.
A guerra no Sudão causou dezenas de milhares de mortes e obrigou mais de 12 milhões de pessoas a fugir das suas casas, mais de três milhões das quais deslocadas para outros países, o que faz do país o cenário da pior crise de deslocações do mundo, segundo a ONU.
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