Questionado pela agência EFE, o porta-voz da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) afirmou que o sultão Al-Jaber dos Emirados Árabes Unidos, país que acolhe a cimeira do clima desde quinta-feira, tem sido "inabalável ao afirmar que atingir 1,5 ºC implica atuar numa série de áreas e setores" e que "o presidente da COP deixa claro que a redução progressiva e o abandono dos combustíveis fósseis é inevitável e que devem ser mantidos os 1,5ºC ao alcance".
"Não temos certeza do que este artigo supostamente revela. Não há nada nele que seja novo ou notícia de última hora", afirmou o porta-voz a propósito das declarações de Al-Jaber hoje reveladas pelas imprensa britânica, comentando que "esta história nada mais é do que mais uma tentativa de minar a agenda da presidência, que tem sido clara e transparente e apoiada por conquistas tangíveis do presidente da COP e da sua equipa".
As declarações, hoje dadas a conhecer pelo jornal britânico The Guardian e pelo Centre for Climate Reporting, remontam a 21 de novembro num evento 'online' organizado pela iniciativa "She Changes Climate", num debate tenso com a ex-Presidente irlandesa e antiga Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Mary Robinson.
O sultão considerou então a saída dos combustíveis fósseis inevitável, mas advertiu que uma transição muito rápida para limitar o aquecimento global a 1,5ºC levaria o mundo à "idade das cavernas" e pediu pragmatismo sobre esta matéria.
Na discussão, Mary Robinson, presidente do grupo independente Os Sábios (altos dirigentes, ativistas da paz e defensores dos direitos humanos), tinha desafiado Al-Jaber no sentido de, na qualidade de presidente da COP e líder da petrolífera estatal Adnoc, a assumir a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis "com mais credibilidade".
Em resposta, Al-Jaber afirmou: "Aceitei vir a este encontro para ter uma conversa sóbria e madura. Não estou de forma alguma a aderir a nenhuma discussão alarmista. Não há nenhuma ciência, ou nenhum cenário, que diga que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é o que vai atingir [a meta assumida no Acordo de Paris de] 1,5°C".
Segundo o The Guardian, a antiga política irlandesa continuou a desafiar o presidente da COP, afirmando ter lido que a estatal Adnoc estava a investir muito mais em combustíveis fósseis no futuro, ao que Al-Jaber ripostou: "Por favor, ajude-me, mostre-me o roteiro para uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis que permitirá o desenvolvimento socioeconómico sustentável, a menos que você queira levar o mundo de volta às cavernas".
Na mesma ocasião, o sultão duvidou que se consiga ajudar a resolver o problema climático com acusações ou contribuindo para a polarização e uma divisão que disse já estar a acontecer no mundo: "Mostre-me as soluções. Pare de apontar o dedo. Pare com isso".
A nomeação de Al-Jaber como presidente da COP28 foi duramente criticada e centenas de organizações da sociedade civil pediram a sua demissão por ser o diretor-executivo da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc).
No seu relatório de setembro, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a produção de combustíveis fósseis deve cair 83% entre 2022 e 2050 para se alcançar a neutralidade carbónica.
O foco das críticas às declarações do sultão prende-se com a diferença entre redução e eliminação dos combustíveis fósseis para se alcançar o objetivo da diminuição do aquecimento global.
A este propósito, nos primeiros trabalhos da abertura da COP28, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que "a ciência é clara e o limite de 1,5ºC só é possível se pararmos de queimar todos os combustíveis fósseis", salientando que não se trata de reduzir ou diminuir, mas da "eliminação gradual, com um prazo claro".
Citado pelo The Guardian, Bill Hare, diretor-executivo da organização não-governamental (ONG) Climate Analytics, comentou que o debate entre Al-Jaber e Mary Robinson é "extraordinário, revelador, preocupante e conflituoso", assinalando que mandar o mundo de volta à idade das cavernas é uma imagem recorrente da indústria fóssil e que está "à beira da negação das alterações climáticas".
A cimeira do clima que começou na quinta-feira no Dubai vai debater estratégias de adaptação e mitigação, apoios financeiros, e fazer um balanço de oito anos de ação climática, que a ONU diz ir em sentido contrário.
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