Cumprir Acordo de Paris? Explorar petróleo na Amazónia "não faz sentido"

O investigador brasileiro Carlos Nobre considera que a exploração de novos poços de petróleo, incluindo reservas na foz do rio Amazonas, no Brasil, não faz sentido se a meta é cumprir o acordo de Paris.

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Lusa
08/12/2023 08:55 ‧ 08/12/2023 por Lusa

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COP28

"Mais de 70% das emissões globais [de gases de efeito estufa] vêm da queima de combustíveis fósseis, de minas de carvão, petróleo e gás natural. Se a gente considerar todas as minas de carvão, os poços de petróleo e gás natural já abertos hoje e se formos explorar todos esses recursos de combustíveis fósseis, já ultrapassaríamos em 40% o limite de emissões para manter a temperatura não superior a um grau e meio do acordo de Paris", explicou Nobre, que é considerado um dos maiores especialistas do mundo no estudo sobre o aquecimento global.

"Então veja bem isso de todos os postos de petróleo e gás natural e minas de carvão já em operação, então para não passar [aquecimento desejado] de um grau e meio nós temos que inclusive ir diminuindo a exploração dessas minas e poços em exploração. Não faz muito sentido [começar] nenhuma nova exploração porque nós temos que reduzir as explorações", acrescentou, ao ser questionado sobre a exploração de poços de petróleo na Amazónia e em outras áreas do planeta. 

O especialista apresenta cinco estudos na COP28, que decorre até dia 12 de dezembro, no Dubai. O primeiro sobre a proximidade que a floresta amazónica está de um ponto de não retorno, ou seja, de se transformar numa savana, o segundo é sobre risco e o crescimento da criminalidade na Amazónia, o terceiro sobre restauração florestal, o quarto relatório sobre redução da desflorestação e um quinto sobre infraestruturas sustentáveis para a Amazónia. 

Em 2022, Nobre foi eleito membro estrangeiro da Royal Society, instituição britânica que promove o conhecimento científico, além de ser pesquisador sénior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP). Integrou também o grupo de investigadores que venceu o Prémio Nobel da Paz de 2007 com o quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).

No caso do Brasil, o discurso em favor da descarbonização da economia adotado pelo Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que defende ações voltadas para preservação da floresta Amazónica para mitigar as alterações climáticas contrasta com declarações a favor de a petrolífera Petrobras pesquisar reservas de petróleo na foz do rio Amazonas.

Durante a COP28, Lula da Silva afirmou que "é hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis".

Porém, na mesma cimeira, o Governo brasileiro caiu em contradição ao anunciar que poderá integrar a OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados).

Criada em 1960, a OPEP é um cartel de países produtores de petróleo, que atualmente tem 13 membros, entre eles, Arábia Saudita, Venezuela e Angola. Já a OPEP + reúne dez países aliados dos membros permanentes, entre eles Rússia, México, Malásia e Sudão. 

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão responsável pelas licenças ambientais no Brasil, incluindo as autorizações necessárias para pesquisar petróleo, negou um pedido da Petrobras para atuar na foz do rio Amazonas devido à vulnerabilidade socioambiental daquela área. A empresa, porém, recorreu da decisão e mantém os planos de investigar a área.

Em setembro passado, Lula da Silva havia afirmado que o Brasil não vai deixar de pesquisar a margem equatorial, a área do oceano Atlântico perto da foz do rio Amazonas onde se acredita existir grande quantidade de petróleo.

"Se encontrar a riqueza que se pressupõe que exista lá, aí é uma decisão de Estado se você vai explorar ou não. Mas, veja, é uma exploração a 575 quilómetros à margem do Amazonas. Não é uma coisa que está vizinha do Amazonas. Você não pode ser proibido de pesquisar. Se tiver o que se imagina que tem lá, você pode discutir se vai utilizar ou não. Se vai explorar ou não. Mas, pesquisar, nós vamos pesquisar", disse Lula da Silva, numa conferência de imprensa após participar na última reunião do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, na Índia. 

Atualmente, o Brasil é o nono maior produtor de petróleo do mundo. Cientistas e ambientalistas avaliam que o país sul-americano e os seus líderes ainda têm o petróleo como prioridade económica, apesar dos discursos em defesa da descarbonização da economia.

Durante a COP28, a rede global de Organizações Não Governamentais (ONG) ambientalistas Climate Action Network (CAN) concedeu ao Brasil o 'antiprémio' Fóssil do Dia devido ao anúncio da sua possível adesão à OPEP+.

A exploração de petróleo e seus os efeitos para o aquecimento global é um dos temas centrais da 28.ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28).

Leia Também: Amazónia está muito próxima de se tornar uma savana, diz climatologista

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