A partir de uma tribuna instalada ao pé da escadaria do Congresso Nacional, na presença dos principais representantes internacionais que assistiram à sua tomada de posse presidencial e perante dezenas de milhares de cidadãos, o economista acrescentou que hoje "terminou uma longa e triste história de decadência e declínio".
Milei passou em revista todo o legado deixado pelo Governo do peronista Alberto Fernández (2019-2023) para traçar um duro retrato em que se encontra o país e no qual terá de tomar decisões económicas difíceis e, nesse sentido, comparou o impacto da queda do Muro de Berlim ao resultado das últimas eleições argentinas.
"Tal como a queda do Muro de Berlim, estas eleições marcaram um ponto de viragem na nossa história", afirmou o novo Presidente argentino.
Anunciou que o ajustamento fiscal e o fim da emissão monetária fazem parte do seu plano económico.
Milei também garantiu que a estagflação "será a gota de água" para "a reconstrução da Argentina".
"Infelizmente, tenho de o repetir: não há dinheiro. A conclusão é que não há alternativa ao ajustamento e não há alternativa ao choque", disse Milei, após tomar posse.
O Presidente admitiu que o plano de choque que irá implementar terá um impacto negativo no nível da atividade, no emprego, nos salários reais e na taxa de pobreza e indigência.
"Haverá estagflação, é verdade, mas não é muito diferente do que aconteceu nos últimos dois anos", afirmou.
Milei afirmou que a "herança" deixada pelo 'kirchnerismo' é a pior jamais recebida por um Governo argentino, com um défice financeiro e fiscal equivalente a 17% do PIB, uma inflação que cresce a uma taxa anual de 300%, uma atividade económica paralisada, uma taxa de pobreza de 45% e uma taxa de indigência próxima dos 10%.
Confirmou que irá aplicar um ajustamento fiscal de 5% do PIB, que, prometeu, recairá "quase inteiramente" sobre o Estado e não sobre o setor privado.
Confirmou também que vai "limpar" o passivo do Banco Central e acabar com a emissão monetária que, insistiu, é a causa da elevada inflação argentina.
Mas disse que a política monetária atua com um desfasamento de 18 a 24 meses, razão pela qual antecipou que a inflação continuará elevada, citando previsões de entidades privadas que preveem taxas mensais entre 20 e 40% entre dezembro deste ano e fevereiro próximo.
Milei falou num cenário fiscal e monetário delicado que, na sua avaliação, coloca a Argentina à beira da hiperinflação, que pode chegar a 15.000% ao ano.
"É nossa prioridade máxima envidar todos os esforços para evitar essa catástrofe, que levaria a pobreza para mais de 90% e a miséria para mais de 50%", insistiu.
Milei alertou também para a "herança" em termos de endividamento: "A bomba em termos de dívida ascende a 100 mil milhões de dólares (cerca de 92,8 mil milhões de euros), que terão de ser adicionados aos cerca de 420 mil milhões de dólares (cerca de 390 mil milhões de euros) de dívida existente", alertou.
A estes juntam-se os vencimentos em 2024 da dívida soberana emitida em pesos, no valor equivalente a cerca de 90 mil milhões de dólares (cerca de 83,5 mil milhões de euros), e os vencimentos com organismos multilaterais, no valor de 25 mil milhões de dólares (cerca de 23,2 mil milhões de euros).
No pódio, a lembrar as cerimónias de tomada de posse dos presidentes norte-americanos, ao ponto de o próprio Milei ter falado de "inauguração" - termo utilizado naquele país -, estavam também presentes os principais convidados internacionais.
Sentados ao púlpito estavam o rei Felipe VI de Espanha, que chegou no sábado, os presidentes do Chile, Gabriel Boric, do Uruguai, Luis Lacalle Pou, do Paraguai, Santiago Peña, da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, e o primeiro-ministro da Hungria, Víktor Orbán, entre outros.
Milei conversou alguns minutos com o líder ucraniano antes de se abraçarem para agradecer a sua viagem à Argentina.
Os ex-presidentes da Argentina Mauricio Macri (2015-2019) e do Brasil Jair Bolsonaro (2019-2023) também estavam entre os convidados.
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