Risco de "confronto militar direto" entre RDCongo e Ruanda preocupa ONU
A ONU expressou hoje preocupação com o risco acrescido de "confronto militar direto" entre a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Ruanda, num momento em que Kinshasa pede uma retirada acelerada das forças de manutenção da paz.
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Mundo ONU
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, a chefe da missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco), Bintou Keita, destacou a insegurança "contínua e crescente" no leste, especialmente relacionada com a nova crise do Movimento 23 de Março (M23), uma das milícias mais importantes do Kivu Norte, mas também o surgimento de novos focos de insegurança noutras partes do país, nomeadamente na região do Grande Katanga, assim como nas províncias de Mai-Ndombe e Tshopo.
"As tensões regionais entre a RDCongo e o Ruanda escalaram ainda mais, aumentando o risco de um confronto militar direto que também poderia atrair o Burundi", alertou Keita.
Além disso, o leste do país, e em particular as províncias de Ituri e Kivu do Norte, enfrenta ainda uma crise humanitária e de segurança "extremamente penosa para as suas populações", assim como tensões regionais persistentes, disse.
As relações entre Kinshasa e Kigali, muito tensas desde as guerras que ensanguentaram a região nos anos 1990-2000, viveram um pico de tensão durante dois anos, com o ressurgimento no Kivu do Norte da rebelião M23 que, apoiada por Kigali segundo numerosas fontes, ocupou grande parte da província.
A exacerbação das tensões regionais e da violência em geral no leste da RDCongo ocorre num momento em que Kinshasa apelou a uma retirada acelerada do país de cerca de 14.000 'capacetes azuis' a partir do final do ano, pondo em causa a sua eficácia.
A França, país responsável por este dossiê no Conselho de Segurança, preparou uma resolução "que implementa este plano de desligamento" e que deve ser adotada antes do fim do mandato da missão, em 20 de dezembro, disse hoje o embaixador francês, Nicolas de Rivière.
O texto prevê, nomeadamente, numa primeira fase, "a retirada de Kivu do Sul em 30 de abril", com "um ajuste do limite máximo de tropas em conformidade", acrescentou.
Em qualquer caso, esta retirada deve ser "gradual e responsável", insistiram os membros do Conselho de Segurança.
"Estamos hoje num importante ponto de viragem nas relações entre as Nações Unidas e a RDCongo, mas também num momento importante para o próprio país", sublinhou Bintou Keita poucos dias antes das eleições presidenciais, agendadas para 20 de dezembro.
A líder da Monusco falou de "progressos" neste processo eleitoral, apesar dos "significativos desafios logísticos, financeiros e de segurança", e dos problemas levantados pela oposição relativamente às listas eleitorais ou à "falta de comunicação" sobre os procedimentos eleitorais.
Também manifestou preocupação com a "proliferação da desinformação e do discurso de ódio" no contexto da campanha eleitoral, bem como com a "intimidação e ataques misóginos físicos e verbais" contra candidatas femininas.
De um modo mais geral, Bintou Keita criticou o aumento "inaceitável" da violência baseada no género e da exploração sexual, que "atingiu um nível alarmante", com "mais de 90 mil casos documentados desde o início do ano, incluindo 39 mil no Kivu do Norte".
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