O ex-militar norte-americano preso na Rússia há cinco anos, Paul Whelan, deixou críticas ao presidente Joe Biden e à diplomacia dos Estados Unidos, receando que o governo o "deixe para trás" em negociações de trocas de prisioneiros com os russos.
Numa entrevista telefónica à BBC News, a partir da prisão russa onde está detido, Whelan reiterou que as acusações de espionagem feitas pelas autoridades russas são falsas, mas afirmou que é "inconcebível" que a administração Biden "me deixe para trás" enquanto outros cidadãos estão a ser libertados após trocas de prisioneiros com o Kremlin.
"É uma traição séria. É extremamente frustrante. Eu sei que os EUA têm criado uma série de propostas, propostas sérias, mas isto não é o que os russos querem. E portanto andam de trás para a frente. O único problema é que a minha vida está a esvaziar-se enquanto eles fazem isto", afirmou.
Whelan, preso desde 2018 enquanto estava num casamento de um amigo, foi condenado a 16 anos de prisão em 2020, por acusações de espionagem semelhantes às que foram feitas a Evan Gershkovich, um jornalista norte-americano do Wall Street Journal preso já depois do início da guerra.
O prisioneiro recordou ainda que as condições no campo de prisioneiros onde está têm "caído", com bolor nas paredes da sua cela que o preocupam. Mas a principal preocupação é não ser esquecido. "Estou preocupado que haja um acordo que me deixe para trás. Com cada novo caso, o meu caso vai ficando para o fim da fila", lamentou.
O Departamento de Estado dos EUA disse no início de dezembro que o Kremlin rejeitou uma proposta para garantir a libertação de Whelan e de Gershkovich. Os norte-americanos acusam a Rússia de usarem falsas condenações para prender ambos, usando-os como peões políticos para garantir a libertação dos seus próprios cidadãos.
A mais recente e significativa troca de prisioneiros ocorreu há cerca de um ano, em dezembro de 2022, quando EUA e Rússia trocaram Brittney Griner, a basquetebolista presa em Moscovo por posse ilegal de drogas, e Viktor Bout, um traficante de armas próximo de Vladimir Putin que se encontrava detido desde 2010.
O irmão de Whelan, David, contou no início de um mês à CBS Detroit que um e-mail da Casa Branca enviado à sua família garantia que a libertação de Paul continuava a ser uma prioridade. Mas o irmão do militar preso na Rússia vincou a falta de significado nas palavras.
"Foram precisos 12 meses aos EUA para reunir recursos e apresentar uma proposta única pela libertação do Paul. A proposta foi rejeitada. E estamos de volta ao início, como estávamos em dezembro de 2018 (...) Agora seria uma excelente altura para a Casa Branca mostrar que estão dispostas a fazer mais do que demonstrar frustração", atirou David Whelan.
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