"Guerra não terminará até que Israel tenha completado a sua missão"

O especialista em Médio Oriente Michael Scott-Baumann afirmou hoje que Israel só terminará o conflito contra o Hamas se os Estados Unidos pressionarem nesse sentido, manifestando dúvidas sobre se conseguirá aniquilar o movimento islamita palestiniano.

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Lusa
17/01/2024 08:29 ‧ 17/01/2024 por Lusa

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"A guerra não terminará até que Israel tenha completado o que diz ser a sua missão [aniquilar o Hamas], mas não creio que algum dia consiga derrotar completamente o Hamas, ou até que os Estados Unidos exerçam pressão suficiente para um cessar-fogo. Porque Israel apenas ouve os Estados Unidos, que têm poder para influenciar Israel", afirmou o também escritor, em entrevista à Agência Lusa.

O também mestre pela School of Oriental and African Studies de Londres, que a 11 deste mês lançou em Portugal a edição atualizada do livro 'A Mais Breve História de Israel e da Palestina', cobrindo já parcialmente os acontecimentos de 07 de outubro, lembrou que os Estados Unidos fornece todos os anos a Telavive "milhares de milhões de dólares em equipamento militar e ajuda financeira".

"Os Estados Unidos podem fazer Israel obedecer. Podem levar Israel a pedir um cessar-fogo. No que diz respeito ao futuro, Gaza terá de ser reconstruída. Penso que tem de ser supervisionado e executado pelas Nações Unidas", sustentou Scott-Baumann, para quem os ataques do Hamas foram "terríveis, atrozes, um crime de guerra, um crime contra a humanidade".

Mas, lembrando as palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, os ataques do Hamas "não surgiram do nada", mas de "56 anos de ocupação opressiva".

"Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental estão ocupadas pelos israelitas desde 1967. Em 2005, os israelitas retiraram os colonos e as tropas de Gaza com o objetivo da paz. Na verdade, eles queriam retirar-se porque lhes saía muito caro. Tinham apenas 5.000 colonos e 9.000 soldados. Mas impuseram um bloqueio muito rígido a Gaza. Controlavam as fronteiras a costa, o ar. Assim, Gaza permaneceu efetivamente sob ocupação", explicou.

Segundo o direito internacional, prosseguiu, os territórios palestinianos permaneceram sob ocupação, porque as fronteiras estavam completamente controladas e Israel controlava também a quantidade de água, alimentos, combustível e eletricidade que entrava.

"Depois, em 2006, realizaram eleições na Cisjordânia e em Gaza, e o Hamas conquistou a maioria dos assentos. Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestina com sede na Cisjordânia, decidiu formar um governo de unidade. Abbas ainda seria o Presidente, que incluiu alguns membros do Hamas. Mas Israel opôs-se a isto, disse que não queria ter nada a ver com um governo que integrasse membros do Hamas", continuou.

Para Scott-Baumann, tanto Estados Unidos como União Europeia (UE) decidiram apoiar os israelitas, tendo suspendido toda a ajuda financeira à Autoridade Palestiniana enquanto se falava de um governo de unidade, enquanto os egípcios deixaram de entregar as receitas aduaneiras que cobravam em nome da presidência palestiniana e impuseram um bloqueio ainda mais apertado.

"Na verdade, um memorando israelita posterior, uma fuga de informação posterior, mostrou que a política israelita consistia em impor um bloqueio tão rígido que a vida não seria fácil para os habitantes de Gaza, porque eles esperavam derrubar o Hamas. Mas eles não queriam levar Gaza a uma catástrofe humanitária, mas sim apertar e reforçar o bloqueio. Assim, Gaza tornou-se uma prisão a céu aberto durante 15 anos. Agora, esse é o contexto em que podemos situar os ataques do Hamas", acrescentou.

Scott-Baumann, que conta com vários livros sobre o Médio Oriente, sublinhou que os ataques do Hamas foram "terríveis", não sendo justificados por quaisquer ações anteriores.

"Se o Hamas tivesse atacado as tropas e instalações militares israelitas, teria havido alguma justificação ao abrigo do direito internacional. Resistindo a uma ocupação ilegal. Mas o assassínio de civis inocentes é injustificável e está errado", argumentou.

Scott-Baumann lembrou que, do lado de Israel, tem de se ter em conta o direito internacional, pelo que as persistentes restrições impostas à água, combustível e alimentos, "são ilegais", tal como a destruição da infraestrutura civil, escolas, hospitais.

"Ambos os lados estão a cometer crimes de guerra. O que acho que precisa ser feito para alcançar a justiça baseia-se no respeito pelo direito internacional. O Hamas terá, ou os seus sucessores terão, de aceitar formalmente o direito de Israel existir, da mesma forma que a OLP [Organização para a Libertação da Palestina], reconheceu Israel. Penso que o Hamas, ou os seus sucessores, estarão preparados para aceitar o direito de Israel de viver em paz e segurança, se a ocupação terminar. A ocupação, a ocupação ilegal, está no cerne do problema Israel-Palestina", concluiu.

Leia Também: Israel afirma ter eliminado "célula terrorista" na Cisjordânia

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