"Há o risco de um novo golpe militar liderado por fações desonestas do exército em Bissau, especialmente após a insegurança do final de novembro em Bissau e a suspensão do parlamento", disse Alex Vines, em declarações à Lusa para antecipar os principais temas em destaque para a Guiné-Bissau em 2024.
"O Governo de Umaro Sissoco Embaló parece tornar-se cada vez mais autoritário e o congelamento dos postos de trabalho no setor público alimentará ainda mais o descontentamento da população em 2024", alertou o diretor da Chatham House.
O Ministério do Interior e da Ordem Pública da Guiné-Bissau avisou na semana passada que estão proibidas no país quaisquer manifestações ou comícios em decorrência de operações em curso de buscas e apreensões de armas de fogo.
O anúncio foi feito pelo comissário nacional da Polícia de Ordem Pública (POP), Salvador Soares, em resposta "às informações nas redes sociais" da pretensão de manifestações públicas de cidadãos para os dias seguintes, incluindo uma manifestação prevista para dia 18, organizada pela Plataforma Aliança Inclusiva (PAI- Terra Ranka), que venceu as últimas eleições legislativas e cujo Governo foi demitido em dezembro pelo chefe de Estado guineense.
A manifestação acabou por não se realizar.
O Presidente guineense evocou a existência de uma grave crise institucional, em dezembro passado, para dissolver o parlamento e demitir o Governo que tinha sido eleito em junho de 2023, o que mergulhou o país novamente em instabilidade.
A nível continental, Alex Vines destaca que apesar de África ser a segunda região com o crescimento mais rápido, a seguir à Ásia, a expansão de 4% "mostra uma realidade menos auspiciosa", destacando vários temas que estarão entre as prioridades dos governos para este ano.
"Novos conflitos, mais golpes de Estado, o renovado conflito entre Israel e Gaza e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia estão a contribuir para impedir um crescimento maior em todo o continente", escreveu o analista num artigo sobre os principais temas de 2024 para África, publicado no jornal sul-africano Mail & Guardian.
O debate sobre a dívida pública dos países africanos "será proeminente em 2024; elevadas taxas de juro e um dólar mais forte fazem com que seja mais caro para os países africanos servir a dívida em dólares, o que originou mais sobre-endividamento em vários países", acrescentou o analista, notando que no início deste ano há nove países africanos em situação de sobre-endividamento, e mais 15 em elevado risco e 14 em risco moderado de caírem nesta situação.
No artigo, Alex Vines apontou também "a degradação da instabilidades política no continente, exemplificada pelos nove golpes militares desde 2020, aumentou o foco na fragilidade do Estado de direito constitucional" e salientou que "os países que já estão sob liderança militar estão cada vez mais instáveis, sendo possível novos golpes" em países como o Burkina Faso, Mali ou Níger.
Para Alex Vines, o número elevado de eleições no continente, 17, não fez abrandar o interesse dos investidores e a vontade dos países africanos abrirem as suas economias a investimento estrangeiro.
"Este ano haverá um ritmo mais rápido de fóruns comerciais", sublinhou, apontando o segundo Fórum de Investimento UK-África, em maio, a conferência Itália-África, em Roma, que preside ao G7, e as cimeiras Coreia-África, em junho, e Índia-África.
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