"O IBE tem um acordo com a Universidade em que nós fomos admitidos e há um conjunto de cláusulas que preveem que o IBE financie a nossa estadia no Brasil. Mas agora o IBE aparece a dizer que eles não se responsabilizam por nós", contou à Lusa Margarida Nipatyhi, estudante de 20 anos, no meio de dezenas de outros bolseiros que decidiram acampar à porta do Instituto Bolsas de Estudos, em Maputo.
No total, trata-se um grupo de 36 estudante moçambicanos que deviam já estar no Brasil para estudar na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, no âmbito de um acordo de cooperação técnica entre a instituição e o Instituto de Bolsas de Estudo moçambicano.
Nas últimas 48 horas, o grupo tem estado acampado à porta do IBE, exigindo uma solução, em condições desumanas e à mercê de pessoas de boa vontade, a escassos metros da Ponta Vermelha, a residência oficial do Presidente da República.
"Ontem caiu chuva e nós nos escondemos de baixo destas árvores. Molhamos e não tomamos banho. Só hoje é que conseguimos ter a solidariedade da polícia, que nos abriu um espaço para podermos tomar banho na esquadra policial", declarou Margarida Nipatyhi.
Entre o grupo, há, pelo menos, 17 estudantes que vivem fora da capital e já se encontravam em Maputo quando o IBE anunciou que não tinha verbas para custear a viagem dos estudantes para o Brasil devido a limitações orçamentais.
"Eu, por exemplo, não tenho para onde ir. Vendi a minha casa na província de Niassa para poder custear os meus estudos e em Maputo eu vivia em casa de um amigo. Já não tenho para onde ir e não vou sair daqui até ouvir alguma coisa sobre a minha viagem", disse à Lusa Cláudio Luis, estudante de 25 anos.
Numa conferência de imprensa na segunda-feira, a diretora-geral do IBE, Carla Caomba, alegou que nunca prometeu custear as despesas dos estudantes, embora o acordo, assinado pela própria responsável em junho de 2021, tivesse esta cláusula.
No acordo, a que a Lusa teve acesso, o IBE assume a responsabilidade de disponibilizar as passagens aéreas para os estudantes moçambicanos, bem como auxílio financeiro mensal para cada um, que varia entre 175 e 200 dólares (entre 163 e 186 euros).
Leia Também: Cólera. OMS alerta para agravamento de casos na África Oriental e Austral