"Estou surpreendido que tenha durado dois anos", afirmou o cientista político.
Mas, alertou, "será uma vitória russa a não ser que a Ucrânia continue a receber ajuda dos seus aliados ocidentais".
O segundo aniversário da invasão em larga escala acontece numa altura em que a Ucrânia foi obrigada a ceder o controlo de Avdiivka, uma grande vitória militar para a Rússia, ao mesmo tempo que o Congresso norte-americano falhou a aprovação de um pacote de medidas que incluía ajuda militar e financeira ao país, por resistência dos congressistas republicanos.
"Estão a jogar política doméstica", indicou o professor, que leciona na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.
"O nível de apoio está a desvanecer-se, já não é tão forte e empenhado como há dois anos, e tudo isso joga a favor de [Vladimir] Putin", que "pode fazer uma guerra longa", considerou.
As sanções impostas à Rússia não tiveram um efeito dissuasor e a recente morte na prisão de Alexe Navalny, o principal opositor político do Presidente russo, colocou em destaque a natureza imperturbável de Putin.
"Navalny supostamente morreu numa caminhada no Círculo Polar Ártico. Quem é que vai caminhar durante o inverno russo no Ártico?", apontou o analista. "Não faz qualquer sentido".
Para Vieira, há uma conjunção de fatores que mostram como a Rússia está em clara superioridade no conflito neste momento: a retirada ucraniana da cidade cercada de Avdiivka, a precariedade do apoio norte-americano, a substituição do comando militar do exército ucraniano e a morte impiedosa de Navalny indicam que a estratégia de Putin está a ser mais bem-sucedida.
"Ele ainda tem outros aliados autoritários no mundo, ainda tem muitos recursos e receitas que vêm dos seus recursos naturais", apontou. "Pode fazer um jogo demorado e esperar".
Já a Ucrânia, um Estado mais pequeno e uma democracia frágil, "precisa de toda a assistência que possa conseguir".
Dado o impasse nos Estados Unidos e as posições assumidas pelo candidato à corrida presidencial nos EUA Donald Trump, que disse num comício que não salvaria um país da NATO invadido pela Rússia se considerasse que não pagou o suficiente, Vieira acredita que o Ocidente tem de acionar um plano de contingência.
"É uma ameaça existencial para os países europeus", frisou. "Precisam de ter um plano A e os Estados Unidos serem o plano B".
A forma como as administrações norte-americanas têm titubeado, não apenas em relação à NATO mas em áreas como o clima, acordos nucleares e outros, diminuíram o poder internacional dos Estados Unidos.
"Devido à polarização dos dois lados e a esta alternância de poder, qualquer país pode ter reticências em confiar nos EUA", salientou. "Será difícil levar a sério o que Biden diz sabendo que ele pode abandonar o cargo em menos de um ano", exemplificou.
Considerando que há uma dispersão de poder em vários eixos, Vieira afirmou que "a influência do poder dos EUA está a encolher".
O analista acredita que haverá um novo pacote internacional de ajuda à Ucrânia, mas não um pacote doméstico nos Estados Unidos, devido à pressão de Trump e à esperança dos Republicanos que o seu líder volte à Casa Branca.
"Aí, o presidente que mudou a embaixada americana para Jerusalém e disse que os ataques de 07 de outubro nunca teriam acontecido na sua administração pode aprovar um pacote apenas para Israel", referiu. "A Ucrânia não vai receber nada e o sinal para a Rússia será de que pode fazer o que quiser".
A invasão da Ucrânia ocorreu a 24 de fevereiro de 2022.
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