A mãe do opositor russo Alexei Navalny, Lyudmila Navalnaya, afirmou que já lhe foi mostrado o corpo do filho, na noite de quarta-feira, segundo a BBC. Disse, também, num vídeo publicado nas redes sociais, que assinou uma certidão de óbito, afirmando um porta-voz do antigo líder da oposição russa que o documento diz que Navalny morreu de "causas naturais".
Lyudmila Navalnaya disse ainda que está a ser alvo de "chantagem" e que está a ser pressionada para permitir a realização de um funeral "em segredo", sem "despedidas". "Estão a chantagear-me, ao estabelecer as condições sobre onde, quando e como o meu filho deve ser enterrado", disse.
"Eles querem que isto seja feito em segredo, sem despedidas. Querem levar-me até ao limite do cemitério, a uma campa nova e dizer: 'Aqui jaz o seu filho'. Eu não concordo", disse, apelando a que o corpo lhe seja devolvido, num vídeo publicado no canal de YouTube do filho.
A mãe do ativista russo, recorde-se, viajou até às proximidades da colónia penal onde este estava detido e onde acabou por morrer. Lyudmila Navalnaya diz-se ameaçada pelas autoridades: "Enquanto me olhavam no olhos, disseram que se eu não fizesse um funeral secreto, iam fazer alguma coisa ao corpo do meu filho"
"O investigador Voropaev disse-me abertamente: 'O tempo está contra si, o corpo está a decompor-se'", acrescentou.
Viúva visitou filha nos Estados Unidos
A viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, escreveu hoje na sua conta na rede social Instagram que se deslocou para visitar a sua filha, de 20 anos, Dasha, uma estudante da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
"Minha querida, vim abraçar-te e apoiar-te e tu sentaste e apoias-me", lê-se na legenda que acompanha uma foto da mãe e filha deitadas num tapete.
Descrevendo a filha como "forte, corajosa e resiliente", Navalnaya disse que a família "definitivamente lida com tudo".
A família de Navalny, que inclui ainda Zakhar, de 15 anos, pretende que o corpo do opositor seja entregue, tendo Lyudmila Navalnaya apresentado uma ação na quarta-feira num tribunal de Salekhard, perto da prisão onde o filho morreu.
Lyudmila Navalnaya contestou a recusa das autoridades em libertar o corpo, segundo a agência de notícias estatal russa TASS, que acrescentou que uma audiência, à porta fechada, foi marcada para o próximo dia 04 de março.
As tentativas para recuperar o corpo começaram no dia após a morte do seu filho, a 16 de fevereiro, altura em que era desconhecido o paradeiro do corpo.
Na terça-feira, Navalnaya apelou ao Presidente russo, Vladimir Putin, que lhe fosse entregue o corpo para garantir um funeral com dignidade.
"Não me entregam o corpo e nem me estão a dizer onde está", declarou então Navalnaya.
As autoridades russas disseram ser desconhecida a causa da morte de Navalny e recusaram entregar o corpo enquanto o inquérito preliminar decorresse, ou seja, num período de duas semanas.
Num vídeo divulgado na segunda-feira, Yulia Navalnaya também acusou o presidente Putin de matar o marido e alegou que a recusa em entregar o corpo fazia parte do encobrimento.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, rejeitou as acusações, chamando-as de "acusações absolutamente infundadas e insolentes sobre o chefe do Estado russo".
Alexei Navalny morreu a 16 de fevereiro, aos 47 anos, numa prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos.
Os serviços penitenciários da Rússia indicaram que Navalny se sentiu mal depois de uma caminhada e perdeu a consciência.
Destacados dirigentes ocidentais, a família e apoiantes do opositor responsabilizam Vladimir Putin pela sua morte.
[Notícia atualizada às 18h29]
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