Mutilação genital feminina proibida? Gâmbia analisa projeto de lei
A Assembleia Nacional da Gâmbia começou hoje a analisar um projeto de lei para o levantamento da proibição da mutilação genital feminina, incluindo a excisão, em vigor desde 2015.
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O deputado Almameh Gibba apresentou, em primeira leitura, o projeto de lei, que terá uma segunda leitura prevista para 18 de março.
A possibilidade de um regresso à legalização da mutilação genital feminina, incluindo a excisão, tem dividido a opinião pública da Gâmbia durante meses e as perspetivas da adoção e aplicação da lei agora em análise são incertas.
Algumas dezenas de mulheres e homens manifestaram-se fora e dentro do parlamento para pedir o levantamento da proibição.
Apresentaram como argumento aquilo a que chamam "circuncisão feminina", que distinguem da mutilação genital, alegando que se trata de uma tradição profundamente enraizada e cuja proibição viola o direito de praticar os seus costumes.
No entanto, organizações da sociedade civil estão a exortar o Governo a manter-se firme e não alterar a lei que proíbe esta prática.
Num relatório publicado em 2021, o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) afirmou que 76% das mulheres gambianas com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos foram submetidas a mutilação genital e nas com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos a percentagem é de 75%.
O antigo ditador Yahya Jammeh, atualmente no exílio, proibiu a circuncisão feminina em 2015, alegando que não era prescrita pelo Islão, sendo que a quase totalidade da população é muçulmana.
No mesmo ano, o parlamento adotou a primeira lei que proíbe especificamente a mutilação genital feminina, que é agora punível com uma pena de prisão até três anos.
Contudo, entre 2018 e 2021, apenas um caso de mutilação genital foi levado a tribunal e nenhuma condenação ou sanção foi pronunciada, referiu a UNICEF no seu relatório.
O Conselho Supremo Islâmico emitiu uma fatwa (determinação legal emitida por um especialista em lei islâmica) afirmando a legalidade da "circuncisão feminina" ao abrigo do Islão e dizendo que não é apenas um costume ancestral, mas também "uma das virtudes do Islão".
O conselho, a principal organização muçulmana do país, apelou ao Governo para que reconsiderasse a proibição.
A UNICEF define a mutilação genital feminina como a remoção parcial ou total dos órgãos genitais externos por razões não médicas.
Trata-se de uma violação dos direitos humanos fundamentais das raparigas e das mulheres, segundo a organização das Nações Unidas.
Cerca de 200 milhões de raparigas e mulheres são vítimas desta mutilação, estimou a UNICEF.
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