"Na RDCongo, há uma escalada alarmante da violência no Kivu do Norte, mas também na província do Kivu do Sul", afirmou Pierre Kremer, diretor regional adjunto da Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV), no regresso de uma missão ao país africano, que faz fronteira com o lusófono Angola.
Depois de oito anos pouco ativo, o M23 (Movimento 23 de março"), um grupo rebelde predominantemente de etnia tutsi, voltou a pegar em armas, no final de 2021 e, com o alegado apoio do exército ruandês, apoderou-se de vastas áreas do Kivu do Norte, ao ponto de cortar todas as vias de acesso terrestre a Goma, no início de fevereiro, exceto a ligação à fronteira ruandesa.
Na quarta-feira, após dois dias de combates, os rebeldes do M23 tomaram o controlo de várias localidades do território de Rutshuru, incluindo a cidade de Nyanzale, provocando a fuga de mais de 100.000 pessoas das suas casas, segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
Pierre Kremer disse aos jornalistas que a FICV, em colaboração com a Cruz Vermelha da RDCongo, estava a lançar um apelo de emergência de 50 milhões de francos suíços, para ajudar 500.000 pessoas deslocadas e as suas comunidades de acolhimento, o mais rapidamente possível.
"Este é mais um apelo aos nossos parceiros, à comunidade internacional e, claro, aos doadores, para que se solidarizem com o povo da RDCongo para garantir que esta crise não seja uma crise silenciosa, uma crise negligenciada", afirmou.
No final de 2023, as Nações Unidas estimavam que cerca de sete milhões de pessoas estavam deslocadas na RDCongo, incluindo 2,5 milhões só no Kivu do Norte. Centenas de milhares de pessoas estão amontoadas em campos nos arredores de Goma.
"As pessoas estão a viver em condições extremamente precárias, à beira de um colapso mental, físico e financeiro. A maior parte da ajuda está a chegar às pessoas que vivem nos campos à volta de Goma, mas não é suficiente para satisfazer a escala das necessidades, devido a um financiamento insuficiente", destacou o responsável da Cruz Vermelha Internacional.
O Comissário afirmou que na semana passada, em Goma, tinha visto "a dura realidade com que se deparam milhares de pessoas deslocadas".
"Num campo, que alberga agora dezenas de milhares de pessoas, há uma falta alarmante de instalações básicas, com apenas quatro casas de banho para milhares de pessoas, o que aumenta o risco de violência baseada no género e de invasão da privacidade, bem como os riscos para a saúde, como a cólera", observou.
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